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Economia

Jovens não planejam a aposentadoria

Conforme a pesquisa, 36,2% dos que não se preparam para a aposentadoria alegam que nunca sobra dinheiro

Da Redação do Diamante Online

21/02/2017 às 09:33 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Jefferson Estevão França, 21 anos, terá o futuro decidido pelo governo Michel Temer e nem calcula o impacto da decisão para a sua aposentadoria. Não à toa, o “desinteresse” ocorre porque a rotina de entregador de água e gás consome boa parte do seu expediente e, segundo ele mesmo diz, “parar de trabalhar não deve acontecer tão cedo, então não há motivos para se preocupar”.

A opinião de Jefferson é sintomática e mostra quanto os jovens estão distantes das discussões que acontecem na Câmara Federal. Em breve, os deputados vão analisar as medidas enviadas pelo atual Governo, e, se aprovadas, farão com que os brasileiros trabalhem muito mais até se aposentar.

A realidade de França não é isolada. Segundo pesquisa realizada pelo SPC Brasil e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), quatro em cada dez jovens brasileiros entre 18 e 30 anos não se preparam para a aposentadoria. Isso acontece mesmo tendo eles um diferencial importante em relação a gerações anteriores: o imediato acesso à informação. Assim, em tese, podem pesquisar e aprender sobre muitos assuntos utilizando as tecnologias atuais.

Entretanto, uma parcela significativa ainda demonstra certo desconhecimento sobre temas essenciais, como a importância do preparo para a aposentadoria, uma vez que muitos tendem a focar no presente e não se preparam corretamente para o futuro. Do total dos entrevistados, 48,2% das mulheres ainda resistem em se organizar para quando a idade chegar e 43,6% pertencem às classes C, D e E.

De acordo com a economis­ta-chefe do SPC Brasil, Mar­cela Kawauti, existe um desprendimento com a educação financeira em geral e, no futuro, isso pode pesar. “E isso independe do que o Governo atual está propondo. Estamos falando de se or­ganizar, para quando a terceira idade chegar, a pessoa dispor de um valor significa­tivo. A contribuição pode co­meçar com pouco”, garante.

Mas ainda não é o que acontece. Conforme a pesquisa, 36,2% dos que não se preparam para a aposentadoria alegam que nunca sobra dinheiro, 21,7% acreditam ser cedo para pensar nisso e 21,3% que não sabem como fazer. “O que percebemos é que existe falta de prioridade com o assunto. O fato de estar longe não impede que o jovem comece a pensar sobre o assunto”, reforça Marcela, destacando ser possível que esse quadro mude após a aprovação da reforma da Previdência, quando as regras ficarão mais duras.

Entre outros pontos, Temer propõe idade mínima de 65 anos para homens e mulheres poderem se aposentar e contribuição por 49 anos para obter aposentadoria com valor integral junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Ainda assim, parte dos entrevistados entende os desdobramentos possíveis para quem deixa de lado a preparação para a aposentadoria: a consequência mais citada por 31,2% entrevistados é o fato de não poder viver tranquilamente na terceira idade por não ter uma renda fixa mensal. Outros 26,4% dizem que provavelmente terão um padrão de vida inferior quando comparado ao padrão atual e 16,8% acreditam que não poderão parar de trabalhar.

Na visão do professor do curso de Finanças do Cedepe Business School, Julio Becher, essa falta de programação tem a ver com o aspecto cultural. “A nossa sociedade não tem o hábito da poupança. Ou seja, os jovens estão habituados a consumir de forma parcelada, logo eles se comprometem por muito tempo”, afirma, pontuando que, se pudesse dar um conselho, diria para não depender da previdência pública. “Ele pode começar a contribuir com R$ 200, por 25 anos a uma taxa média de mercado de 0,8% líquido/mês, o que renderia R$ 1,4 mil ao mês”, orienta.

Outra alternativa, segundo o economista e professor do Centro Universitário da Faculdade dos Guararapes (FG), Aluísio Gondim, é se preparar para ser empreendedor. “Como pessoa jurídica, ele terá mais liberdade para montar sua aposentadoria. O jovem tem que estar atento, porque existem outras opções de investimentos com perspectivas no longo prazo“, indica.

Brasileiro vai ter de trabalhar mais cedo
Para conseguir se aposentar com a idade mínima de 65 anos, isso se as novas regras da reforma da Previdência forem aprovadas pelo Congresso, o brasileiro terá que começar a contribuir com 16 anos. Segundo especialistas, essa condição é impossível considerando que os jovens nessa idade têm pouca experiência para enfrentar o mercado de trabalho, que anda cada vez mais enxuto em função do alto índice de desemprego.

Ao todo, 12 milhões de pessoas estão sem postos de trabalho no País. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que, no último trimestre de 2016, o setor populacional mais atingido pelo desemprego foi o de jovens entre 14 e 24 anos.

Ou seja, a necessidade de se pensar num plano de Previdência está cada vez mais urgente. Para o professor de Direito Trabalhista da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV/EAESP), Jorge Boucinhas, dificilmente essas pessoas terão tempo hábil de se aposentar com o valor integral do benefício.

“Porque, pela nova proposta, eles precisarão contribuir pelo teto desde a primeira contribuição para ter acesso ao salário quando se aposentar. Sem dúvidas, vai faltar dinheiro para essas pessoas lá na frente”, sentencia. Por isso, ele reforça, é preciso pensar em um plano b. “A Previdência privada está se tornando popular diante da iminência de mudanças”, destaca.

Mas se antecipar nem sempre é possível. É que, às vezes, esses jovens enfrentam uma dura realidade. Para muitos, a programação de vida se baseia no agora. Esse é o caso de Hélio Alves, 16 anos. Filho de empregada doméstica, o garoto tem mais dois irmãos e sonha em ser engenheiro civil. Na verdade, ao ser questionado sobre seus planos para o futuro, Hélio solta um sonho maior do que a carreira: “comprar uma casa para minha mãe”, diz. Guardar dinheiro para aposentadoria não está nos seus planos, pois ele sequer tem para hoje. O gasto é com o básico.

Desempregada, Darlene Cavalcante também tem muitos planos antes de pensar na sua aposentadoria. “Nem sei se vou estar viva”, responde. Depois de ter terminado os estudos, ela trabalhou como operadora de call center e contribuiu para a Previdência por um ano. Agora, sem emprego, a ideia é voltar a procurar emprego e engrenar no curso de nutrição.

FolhaPE

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