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Ser criador de vídeo na internet vira sonho de carreira de adolescentes

O que você quer ser quando crescer?

Da Redação do Diamante Online

27/03/2016 às 15:44 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

O que você quer ser quando crescer? Antigamente, a molecada respondia: jogador de futebol, astronauta, cantor, cantora, ator, atriz. Hoje, uma nova aspiração entrou nessa lista: YouTuber.

Produzir vídeos para serem veiculados na plataforma virou uma opção de carreira de crianças e adolescentes, muitas das quais passam o dia no site. Seus ídolos são pessoas que têm canais na plataforma, e alguns deles até conseguem tirar uma grana disso.

"Quero ser engenheiro, mas, se o meu canal der certo, prefiro ser YouTuber", diz Matheus Yoshida, 13, que mora na Grande São Paulo. Ele e o amigo Luís Felipe Godinho, 12, criaram no ano passado no site um canal que tem 35 inscritos (pessoas que seguem as atualizações).

Ali, postam vídeos de "gameplay", mostrando como um jogo é conduzido pelo jogador, às vezes para ensinar um macete ou uma forma de superar uma fase difícil. Outro vídeo produzido pela dupla é uma "tag", uma gravação em que o YouTuber participa de um desafio, um jogo ou responde a perguntas feitas por espectadores.

Para Luís Felipe, a grande vantagem de ser YouTuber é "poder trabalhar de casa" e "se divertir no emprego".

Ele e Matheus vislumbram a possibilidade de se sustentar por meio dos vídeos, que aprenderam a editar por meio de tutoriais na plataforma. O ganho financeiro depende da inserção de anúncios e, o retorno, do número de visualizações -um número reduzido de pessoas, portanto, consegue se sustentar assim.

Produtores de conteúdo desse tipo também podem migrar para outros meios, fazendo campanhas publicitárias, lançando livros e atuando no teatro. Assim, podem fazer mais dinheiro.

Plataforma do Google, o YouTube se aproveita desse interesse —"quanto mais bem-sucedidos são os YouTubers, mais bem-sucedido é o próprio YouTube", declara a empresa, em nota.

MIGRAÇÃO

Yoshida, cujo maior ídolo é Julio Cocielo, do "Canal Canalha" (com mais de 6 milhões de assinantes), diz que não faz questão de ser famoso. Já Cocielo estourou. Ele foi contratado recentemente pelo programa "Pânico na Band" —sinal de como a TV corre atrás desse público jovem que fica atrás da tela do computador.

"Antes, as crianças brincavam de teatro. Hoje, brincam de vídeo", afirma a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia e Informática da PUC-SP.

"O sonho de ser YouTuber vem da questão da linguagem —hoje, eles sabem e gostam de se comunicar por vídeo", diz. Tanto que a rede social da moda entre os mais jovens é o SnapChat, de compartilhamento de imagens e vídeos.

Para ela, é importante que a prática seja vista como mais uma atividade no dia a dia da criança, e não a principal. "A criança pode jogar futebol e também fazer vídeos, como outra atividade. Quem tiver talento pode se sobressair, assim como acontece na aula de balé, por exemplo", afirma.

O problema, segundo Jo-tta, é quando a família inteira investe naquilo —da mesma forma que investiam na carreira de jogador de futebol dos filhos. "Para as crianças, é só uma brincadeira."

A jornalista Fernanda Café, 29, editora do site Pac Mãe, sobre cultura pop e maternidade, diz que a maior parte dos adultos tem dificuldade de aceitar que essa é uma carreira. "Segue um modelo diferente do que estamos acostumados, mas dá trabalho, exige comprometimento e pode dar retorno financeiro", diz.

Mãe de um menino de 7 anos que quer publicar vídeos, ela participou do debate intitulado "Meu filho quer ser YouTuber: e agora?" em janeiro na Campus Party, em São Paulo. A resposta: pais devem acompanhar o conteúdo consumido e produzido pela criança, diz Fernanda.

Caso os filhos queiram criar um canal próprio no YouTube —a idade mínima é 13 anos—, o recomendado é também monitorar o que está sendo exposto. "Ver se ele não está gravando de uniforme, por exemplo, ou contando informações demais da vida dele", observa ela.

HOBBY OU PROFISSÃO

Parte das crianças, pré-adolescentes e adolescentes que quer ser YouTuber —agora ou quando crescerem— também deseja a fama.

Valentina Mota, 13, se divide entre ser médica e YouTuber. Antes, queria fazer vídeos com tutoriais de maquiagem, gênero popular na plataforma. Atualmente, prefere o "gameplay", que mostra a condução de um jogo pelo usuário. "Tem pouca menina que joga", conta a garota, que quer representar as mulheres em vídeos sobre games.

Ela pensa em criar um canal e daí, caso seja bem-sucedido, usar sua imagem "para fazer outras coisas que dão dinheiro, como associá-la a marcas". Valentina diz gostar da fama e de "estar no centro". "Se não for para muita gente assistir, não vale a pena, é muito desgaste emocional."

Um dos primeiros YouTubers a fazer sucesso no Brasil, PC Siqueira, 29, diz que "como em qualquer outra profissão, se você priorizar ser famoso, vai acabar sendo um artista ruim". Para ele, a busca pela fama pode frustrar a criança, que talvez desista no meio do caminho. "Mas não é negativo ficar frustrado", ressalva.

PC tinha 23 anos e "alguns dias livres" quando criou o canal "maspoxavida", hoje com 2 milhões de inscritos. Depois da fama, apresentou um programa na MTV.

Para Otávio Albuquerque, criador do canal "Rolê Gourmet", com PC Siqueira (quase 1 milhão de inscritos), e do "Coisas Que Nunca Vivi" (107 mil inscritos), "não ter audiência pode ser muito frustrante".

"Por outro lado, acho que o exercício da criação é extremamente válido por si só. Se ninguém assistir, já valeu a pena, porque é uma ótima experiência de análise distanciada de si mesmo", afirma ele, lembrando que o "Coisas Que Nunca Vivi" não lhe rende dinheiro e que essa não é sua preocupação imediata.

Albuquerque ressalta que ser YouTuber é como ter um empreendimento, "com os riscos e as recompensas de qualquer negócio, e não um "emprego", onde você bate cartão e trabalha para alguém".

"Seu canal pode, sim, ser sua profissão, mas pode ser só um hobby também, um espaço pra você fazer e compartilhar coisas de que gosta."

Para Paula Priore, 14, "se o vídeo puder afetar de um jeito bom duas pessoas, já está bom". Ela vê na produção de conteúdo outras possibilidades de carreira, não só a de YouTuber. Gostaria de ser roteirista de vídeos, se não for escritora ou musicista.

Paula já gravou um vídeo sobre o papel dos jovens nas manifestações políticas recentes, mas afirma preferir ficar por trás das câmeras, escrevendo esquetes.

Folha

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