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Paraíba

Cresce número de casos de lupus na Paraíba em mais de 5 mil casos

Especialista diz que é importante fazer tratamento corretamente e realizar consultas periódicas para evitar a doença.

Da Redação do Diamante Online

27/03/2016 às 15:53 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Dor no peito, cansaço e mal estar foram por muito tempo sintomas que para a prestadora de serviço Nayara de Souza, de 31 anos, aparentemente não passavam de uma simples virose ou indisposição devido a uma vida de correria. Contudo, um agravamento das dores e um desmaio no trabalho elevaram o alerta e os exames trouxeram a confirmação: ela estava com lupus, e a doença já tinha ocasionado artrite, insuficiência cardíaca e fibromialgia.

Ainda pouco conhecido, o lupus é uma doença inflamatória crônica autoimune – na qual o sistema imunológico ataca o próprio corpo. Segundo o Ministério da Saúde (MS), os casos da doença têm evoluído na Paraíba. Somente de 2014 para 2015, houve um aumento de mais de 5 mil no número de procedimentos realizados em decorrência do lupus na rede pública de saúde estadual.

Ao todo, foram registrados no Estado 88 mil procedimentos em decorrência do lupus em 2014 e 93,5 mil no ano passado, o que demonstra um aumento de 5.500 casos. No país, por outro lado, somente no ano passado foram realizados mais de 10,5 milhões de procedimentos, entre internações e atendimentos ambulatoriais, de pessoas com lupus. Em 2014 foram 9,3 milhões de procedimentos em todo o Brasil.

Apesar dos números serem altos, poucas são as pessoas que um dia vão imaginar que têm lupus, pois ele age silenciosamente até se manifestar a partir de diversas outras doenças que o corpo fica suscetível a ter. Foi como Nayara descobriu a doença. Ela revelou que, logo nos primeiros meses em que seu corpo já não parecia mais ser o mesmo, ela perdeu a força de todo o lado direito do corpo o que, segundo os médicos, já pode representar um comprometimento neurológico oriundo da doença ou possivelmente um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Nayara tem três filhos, dos quais o menor tem apenas 3 anos, e não pode trabalhar. Seu esposo está desempregado e a família depende hoje do seu auxílio-doença para sobreviver e pagar os mais de R$ 700 de medicamentos por mês que ela precisa tomar.

Falta de assistência

“É muito difícil viver assim. Eu vivo 24 horas com dor e infelizmente sofro muito. É uma doença muito pouco conhecida pela população e só sabe quem tem. Fora os exames, que têm que ser feitos mensalmente, e tem alguns que o SUS (Sistema Único de Saúde) não cobre e eu acabo não fazendo por falta de condições”, desabafou. Ela revelou também que as dificuldades são ainda maiores, tendo em vista que há quatro meses aguarda a regulação do Hospital Universitário Lauro Wanderley – referência para o tratamento da doença no Estado – para a marcação de uma consulta.

“Em setembro do ano passado eu passei quatro dias sem conseguir me levantar da cama. Meu esposo conseguiu uma consulta, o médico passou um remédio, depois eu voltei no começo de dezembro e fiquei de remarcar o mês seguinte. Desde então não consigo vaga”, revelou. “Eu não tenho condições de pagar um plano e dependo disso para ter uma vida minimamente saudável”, acrescentou.

O que diz o HU

De acordo com a assessoria de comunicação do HULW, houve uma modificação no sistema de marcação de consultas. Agora elas são abertas em apenas um dia e é preciso chegar cedo para garantir a vaga. A assessoria não soube informar o porquê de Nayara estar há tanto tempo sem conseguir fazer uma marcação de consulta, mas assegurou que iria contatá-la para tentar resolver a situação. A reportagem ainda pediu detalhes sobre os atendimentos voltados para o lupus lá oferecidos, contudo não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

Especialista diz que é importante fazer o tratamento corretamente e realizar consultas periódicas para evitar a ativação da doença.

Para a design de interiores Marília Rosana Alves, de 31 anos, a descoberta do lupus ocorreu há seis anos, após a persistência de sintomas como febres constantes, fraqueza, falta de apetite, enxaquecas, dores nas articulações, o surgimento de 36 nódulos inflamatórios e manchas no rosto. O diagnóstico veio com seis meses, quando teve início o tratamento. A partir daí, a doença foi controlada e, na maioria dos dias, Marília diz que é possível ter uma vida “normal”.

“Hoje a doença é suportável. Às vezes me impede de trabalhar, de dirigir, por conta das articulações, com o clima da cidade é inevitável levar sol ou mormaço, que é altamente prejudicial para o lupus, pois causa erupções na pele que trazem incômodo”, comentou. A design de interiores ainda acrescentou que “é preciso manter o controle dos remédios e do sol sempre. No início se torna difícil, mas com o tempo passa a ser uma rotina. Hoje eu respeito as minhas limitações e vivo uma vida "normal"”.

De acordo com o reumatologista do Hapvida Saúde André Fraife, o lupus é uma doença que pode surgir em vários órgãos de forma lenta, em meses, ou de modo mais agressivo, em semanas. É uma doença que não tem profilaxia nem ao menos cura, mas pode ser tratada sem agredir a vida do portador caso o tratamento seja seguido à risca. “A principal preocupação é realizar o tratamento corretamente e ir às consultas periódicas para evitar ativação da doença, além de ter confiança no profissional que acompanha o tratamento. Outra orientação é tentar não seguir receitas nem fórmulas caseiras e sem comprovação científica, lembrando que o tratamento que serve para um determinado paciente pode não servir para outro. O paciente que está bem orientado pode sim ter uma vida normal”, assegurou.

HU é referência

Na Paraíba, quando um paciente procura as Unidades de Saúde da Família (USF) e é identificada a suspeita de lupus ele é encaminhado para o Hospital Universitário Lauro Wanderley, único hospital de referência para o tratamento da doença no Estado. Por não se tratar de uma doença de notificação compulsória, as secretarias municipais e estadual de Saúde não possuem o quantitativo de pacientes com o mal. No HULW, o atendimento é realizado nas terças e quintas. Segundo o Ministério da Saúde, pelo SUS são oferecidos desde procedimentos de diagnóstico até o tratamento.

O que é o lupus?

É uma doença inflamatória crônica de origem autoimune que pode ocorrer em pessoas de qualquer idade e sexo, mas normalmente as mulheres são as mais acometidas. A principal faixa etária é entre 20 e 45 anos, sendo mais comum nos afrodescendentes.

Quais os sintomas?

Manchas geralmente avermelhadas na pele em áreas como rosto, orelha, colo e braços; falta de apetite; fraqueza; desânimo; e emagrecimento estão entre os sintomas gerais. Outros mais específicos são dor nas juntas; hipertensão; e problemas nos rins; dentre outros. Crianças ou mesmo adultos ainda podem apresentar inchaço nos gânglios acompanhado de febre. Mas, para o diagnóstico do lupus, é fundamental a realização de exames laboratoriais ou de imagem.

Quais as causas?

A causa da doença não é conhecida, mas sabe-se que fatores genéticos, hormonais e ambientais participam do desenvolvimento do lupus. Essa susceptibilidade genética quando exposta a fatores ambientais traz alterações imunológicas, trazendo desequilíbrio na produção de anticorpos, que reagem com as proteínas do organismo causando inflamação.

Tem cura?

Não existe cura para o lupus. Então, além do tratamento com remédios, as pessoas com a doença devem ter cuidados especiais com a saúde, como ter mais atenção com a alimentação, repouso e evitar estresse, além de atenção com higiene para evitar infecções. Também é preciso evitar exposição ao sol, proteger-se contra a irradiação solar para prevenir o aparecimento de manchas e inflamações dos órgãos internos. Diversos são os cuidados, mas seguindo-os à risca é possível controlar a atividade inflamatória da doença e minimizar os efeitos colaterais dos medicamentos.

Dr. André Fraife e Ministério da Saúde.

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