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Paraíba

Exclusivo: Inquérito da ‘Cartola’ revela a podridão no futebol paraibano

O inquérito da Operação Cartola possui seis volumes, cada um, em média, com 300 páginas

Da Redação do Diamante Online

13/05/2018 às 12:45 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Manipulação de resultados. Escolha de árbitros por parte de dirigentes. Armações pagas. E até ameaças de morte. Estes são apenas alguns dos fatos que constam em relatórios da Operação Cartola, os quais a reportagem do Correio da Paraíba teve acesso com exclusividade. Nos documentos, transcrições de áudios mostram a clara escolha dos árbitros a serem escalados nos jogos do Campeonato Paraibano. A operação investiga fraudes no futebol da Paraíba.

O inquérito da Operação Cartola possui seis volumes, cada um, em média, com 300 páginas. O conteúdo revela que o futebol paraibano está afundado na corrupção. Dirigentes de clubes escalavam árbitros e manipulavam resultados de jogos.

Nos autos aos quais a reportagem teve acesso, constam os nomes de dirigentes de clubes, como Botafogo-PB, Sousa, Treze e Campinense; membros da Federação Paraibana de Futebol e árbitros.

Um dos jogos citados nos relatórios, foi a partida entre Botafogo-PB e CSP, realizada no dia 11 de fevereiro, no Estádio Almeidão. O confronto acabou empatado em 3 a 3. Mas o resultado foi o que menos chamou a atenção. Após o apito final, objetos foram arremessados dentro do campo. Na súmula, o árbitro da partida, Francisco Santiago, relata o fato, mas afirma que não conseguiu identificar de qual torcida partiram os arremessos. A investigação, porém, dá conta de que esta súmula foi feita de maneira ilícita.

Os autos mostram transcrições de conversas que envolvem Amadeu Rodrigues, presidente da FPF, Marco Souto Maior Filho, conhecido como Marquito, advogado da FPF, Zezinho do Botafogo, presidente do clube, Breno Morais, vice-presidente de futebol do Belo e José Renato, então presidente da Comissão de Arbitragem da FPF.

No processo, é citado que há uma interferência direta de Amadeu, que teria ligado para Marquito, e que quem teria que resolver seria o advogado do Botafogo, Alexandre Cavalcanti, já que, segundo o próprio Amadeu, Zezinho não sabe resolver nada.

Em outro momento, o texto traz que Amadeu ligou para Alexandre e disse que teria um problema que houve no jogo e que o Botafogo deveria ter feito um Boletim de Ocorrência. Amadeu reclamou novamente sobre Zezinho e também do fato ter sido publicado por grande parte da imprensa, inclusive a TV Belo.

Em outros trechos, José Renato conversa com Zezinho do Botafogo e discutem como resolver o problema da partida. Em um determinado momento, José Renato pergunta a Zezinho: Quando foi que eu prometi um negócio para a gente se juntar eu, você, Amadeu, tudo e a gente não resolver? Em prol de todo mundo. É assim ou não?. Após algum tempo de conversa, o próprio presidente da FPF, Amadeu Rodrigues, pega o telefone e afirma para Zezinho que está resolvendo o problema e que tem que falar com Alexandre.

Já em uma conversa entre Alexandre Cavalcanti e Zezinho, o advogado do Belo sugere que o clube procure um torcedor símbolo, conhecido como Cabedelo, e pergunte se ele não quer assumir que jogou a sandália para não prejudicar o clube. Zezinho responde que o torcedor em questão nem mora mais em João Pessoa.

Deputado estadual do Maranhão aparece nas escutas

Outra figura que aparece constantemente nos autos, é o vice-presidente de futebol do Botafogo-PB, Breno Morais. Em um telefonema do dia 15 de fevereiro, Breno é flagrado conversando com José Renato. Na ocasião, ele cobra o ex-presidente da Comissão de Arbitragem que cumpra os acordos feitos. E a negociação não envolvia apenas jogos do Botafogo. O dirigente aparece pedindo que José Renato interfira na partida entre Atlético de Cajazeiras e Sousa. Segundo Breno, quem tem que ganhar é o Atlético.

Na conversa, Breno diz que acordo é acordo. Você tem que cumprir seus acordos que você faz. Breno diz ainda que tem que botar um cara que vá lá, que a gente chegue para o cara, resolva lá a situação e resolva a parada.

Por fim, Breno diz que “é domingo ou domingo, Zé, não tem outra data. Esperei até agora e esperei para a data certa, tem que o Sousa perder e a gente ganhar. Eu prefiro arriscar com o Renan junto com o Bosco e tirar esse menino inexperiente”, falou.

Já em outras conversas, Zezinho do Botafogo liga para o deputado estadual Sérgio Frota (PSDB-MA) para articular sobre a arbitragem do jogo entre Botafogo e Altos-PI, pela última rodada da fase de grupos da Copa do Nordeste. Zezinho pede ao deputado o nome do juiz, que seria do Maranhão. Em um determinado momento, Zezinho passa o telefone para Breno e eles conversam rapidamente. O deputado pede que a conversa continue de noite e diz que vai resolver o problema. A partida em questão foi vencida pelo Belo pelo placar de 1 a 0. O árbitro do jogo foi o maranhense, da cidade de Imperatriz, como o próprio deputado fala no telefonema, Ranilton Oliveira.

Em outras conversas, o presidente do Campinense, William Simões, aparece negociando com José Renato a escolha de árbitros para uma partida. No trecho, o então presidente da comissão de arbitragem diz que vai trabalhar na escala do mandatário da Raposa e cita nome dos árbitros Antônio Carlos Rocha, conhecido como Mineiro, e Roberto Lima.

Em uma das partes, Zé Renato diz que conversou com Amadeu Rodrigues e que ele propôs um intercâmbio com Alagoas e Rio Grande do Norte. José Renato diz seria uma boa ideia, mas reclamou que Amadeu não lhe daria autonomia para colocar na escala e pronto. Em outro momento, José Renato diz que tem quatro nomes para William Simões escolher e que vai colocar quem ele autorizar.

O Treze também é citado nos relatórios. Em áudios obtidos com exclusividade pelo Correio da Paraíba, José Renato aparece falando com uma pessoa não identificada e diz que precisar resolver um determinado problema e que o Treze Futebol Clube é maior do que tudo. Ele cita o nome de Amadeu, Alla, que segundo os autos, trata-se de Allan Kardec Moraes, diretor de futebol do Treze, e Fábio, que seria Fábio Azevedo, também diretor de futebol do Galo.

Em outros áudios, Lucas Andrade, funcionário da FPF, é flagrado em uma conversa onde cita novamente o Galo e fala em José Renato e Éder, que seria o árbitro Éder Caxias. Segundo ele, Éder teria embolsado mais de R$ 100 mil do Treze.

Áudio da Cartola

Áudio da Cartola 1

Áudio da Cartola 2

O presidente do Sousa, Aldeone Abrantes, também aparece flagrado em um áudio conversando com José Renato. Na conversa, José Renato pergunta se o comandante do Dinossauro queria o árbitro Emanuel Diniz ou Francisco Santiago e Aldeone diz que pode ser. Renato defende Santiago e pergunta se Aldeone não quer os dois. Em seguida ele diz ‘está feito’.

Armações contra ex-parceiros

Outro ponto que aparece nos autos é uma suposta armação de Amadeu Rodrigues e Benedito Medeiros Júnior, conhecido como Beninha, presidente de uma Torcida Organizada do Botafogo, contra o vice-presidente da FPF, Nosman Barreiro, que, de acordo com o documento, não teve até o momento nenhuma crime encontrado nos áudios analisados. Este foi flagrado em um vídeo no mês de outubro do ano passado, em que, dá a entender que ele estaria organizando um protesto contra Amadeu Rodrigues. Porém, os relatórios mostram outra coisa.

Em uma conversa entre José Renato e Rosilene Gomes, ex-presidente da FPF, o ex-presidente da comissão afirma que, em um dia ao sair da sala de Amadeu, percebeu que o mesmo estava nervoso. Ao sair, ele se deparou com Beninha, que teria revelado que, a mando de Amadeu, eu fiz aquela merda (sic) com Nosman. E agora estou lascado. Ainda na mesma conversa, José Renato diz que Beninha o afirmou que precisava ir embora, porque se não iria matar Nosman.

Outra pessoa citada nos áudios é o radialista Fabiano Gomes. Segundo os autos, José Renato diz que Amadeu teria pago ao radialista aquela materiazinha de uns 15 dias atrás, referindo-se ao vídeo supostamente armado e veiculado pelo radialista. José Renato diz ainda que Beninha confessou que tinha armado uma arapuca e trata Beninha como uma bomba ambulante. Por fim, ele diz que Amadeu teria pago R$1.500 reais pelo vídeo e que Beninha estaria querendo mais 800 reais.

A reportagem do Correio da Paraíba procurou os envolvidos para falar sobre o conteúdo do inquérito que envolve seus nomes, mas eles não foram encontrados.

Portal Correio

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