Política
Cássio Cunha Lima afirma ter recusado propina da Odebrecht nas eleições de 2014
O senador disse à Folha que tomou a atitude "correta, que lhe cabia, que foi recusar" a proposta feita pelo executivo da construtora Odebrecht
Da Redação do Diamante Online
21/01/2018 às 14:53 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB), afirmou em depoimento à Polícia Federal que ouviu de um executivo da empreiteira Odebrecht a proposta para que recebesse dinheiro em esquema de caixa dois para sua campanha ao governo da Paraíba, em 2014, e recusou a oferta. As informações são da Folha de São Paulo.
Ainda segundo a Folha, Cássio Cunha Lima não fez denúncia sobre a proposta em discursos no Senado, nem procurou a Polícia Federal ou outros órgãos de controle para alertar o que havia ocorrido em seu gabinete no Senado.
A afirmação do senador paraibano contradiz os depoimentos dos delatores da Odebrecht e o resultado da análise técnica feita pela Procuradoria Geral da República (PGR) no Drousys, o sistema de comunicação criado pela empreiteira para o departamento de propina da companhia, o Setor de Operações Estruturadas.
Os arquivos do Drousys estavam em um servidor em Estocolmo, na Suécia, e foram entregues como parte do acordo de delação premiada fechado pela Odebrecht com a PGR.
Segundo o relatório da PGR, planilhas encontradas em anexo de e-mails enviados em 2014 corroboram as afirmações do executivo da Odebrecht Alexandre José Lopes Barradas, que revelou o pagamento de R$ 800 mil nas eleições de 2014, via caixa dois, em favor de Cássio Cunha Lima. Segundo Barradas, o senador foi identificado pelos codinomes Trovador e Prosador.
O depoimento do senador foi dado em junho. Cássio disse Barradas apareceu para dizer que havia recebido autorização para fazer a doação após o pedido de ajuda para a sua campanha nas eleições de governo do Estado. Barradas informou que somente poderia fazer uma doação eleitoral para a campanha do declarante de forma não oficial, disse Cássio à Polícia Federal.
O senador disse que reagiu imediatamente à proposta, dizendo que não poderia aceitar doação não-contabilizada, e argumentou que a tratativa parou por ali e sua campanha recebeu R$ 200 mil do grupo Odebrecht de forma oficial, pelo braço petroquímico da companhia, a Braskem.
Barradas disse que o senador demonstrou incômodo e preocupação com a sugestão de caixa dois, mas que aceitou receber os valores não contabilizados. Segundo Barradas, o senador apresentou um assessor chamado Luiz como intermediário para o recebimento do dinheiro, que foi pago em duas parcelas de R$ 800 mil entregues em espécie em um hotel na periferia de Brasília. A Polícia Federal agora quer saber quem era Luiz.
O senador disse à Folha que o caixa dois em eleições faz parte da cultura política brasileira e que tomou a atitude correta, que lhe cabia, que foi recusar a proposta feita pelo executivo da construtora Odebrecht.
Queria deixar registrado que o delator disse que fui o único a resistir ao caixa dois. Eu não pedi, resisti e não recebi. Em seu depoimento, Alexandre Barradas disse que a princípio Cunha Lima recusou, mas depois aceitou a doação em caixa dois.
Cássio disse que há inconsistências no relato de Barradas. Ele fala que entregou o dinheiro a um tal de Luiz que ninguém acha. E num hotel que ele não lembra qual foi. Como é que você entrega um valor expressivo desses num local que foi combinado e não lembra o hotel que foi?
Folha de São Paulo
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