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Política

Ricardo tem duas candidaturas na base mas só reconhece a de Azevedo

O governador nunca falou de afinidades maiores com sua vice e com o marido desta, deputado Damião Feliciano, o que reforça a especulação de que a aliança em 2014 foi por conveniência.

Da Redação do Diamante Online

22/04/2018 às 11:44 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Em tese, duas candidaturas ao governo da Paraíba gravitam na base de apoio ao atual governador Ricardo Coutinho (PSB): a do ex-secretário João Azevedo, pela sigla socialista, e a da vice-governadora Lígia Feliciano, pelo PDT. Num fenômeno atípico na conjuntura estadual, o esquema governista liderado por Coutinho reconhece apenas a candidatura de Azevedo como legítima e como identificada com o projeto administrativo que está em curso. O governador ignora olimpicamente a pretensão de Lígia, que, não obstante, se declara, nas entrevistas, partícipe do projeto administrativo em andamento e, consequentemente, representante da gestão que ela considera modelar, responsável por avanços introduzidos na gestão pública em diferentes setores.

A desconfiança da parte do governador em relação à sua vice, inquinada por estar montando um suposto governo paralelo desde que alimentou a expectativa de renúncia de Ricardo, para concorrer ao Senado, e o compromisso prévio firmado por RC com Azevedo, espécie de seu candidato in pectoris, contribuíram para o distanciamento entre os dois ex-companheiros de chapa na eleição de 2014. Abespinhado com as intrigas de bastidores sobre movimentação de Lígia, com o apoio do seu marido, o deputado federal Damião Feliciano, presidente estadual do PDT, com vistas à montagem do tal governo paralelo, Ricardo tornou público que ficará no exercício do cargo até o último dia do mandato. Sua alegação é a de que a permanência no Executivo é imprescindível para garantir a continuidade do projeto administrativo que vem tocando e que somente seria viável com a eleição de Azevedo e a derrota de adversários que o governador qualificou de Aventureiros, que já tiveram sua chance de administrar o Estado e nada fizeram.

Interlocutores do governador revelam que ele resolveu fechar canais de diálogo com o clã Feliciano ao perceber que a vice empolgava-se com a possibilidade de vir a assumir o restante do atual mandato e, na cadeira do poder, sair candidata à reeleição. As versões chegadas ao conhecimento de Coutinho envolveram, até, a discussão de nomes no “clã” Feliciano para ocupar secretarias estratégicas, reforçando aparentemente o projeto de candidatura dela ao Palácio da Redenção. A esta altura, dizem as fontes, pouco importa a Ricardo qualquer desmentido da parte de Lígia em torno das articulações paralelas – o ambiente já estaria envenenado demais para que surgisse uma luz no fim do túnel, favorecendo entendimentos entre o titular e a vice. Coutinho tem se considerado até mesmo desobrigado de tratar formalmente com Lígia das decisões acerca da sua permanência no cargo e recorre à imprensa para dar sinais e emitir recados. Lígia, por sua vez, parece sem cacife para abrir canais de interlocução com Ricardo e também tem se pronunciado através da imprensa ou em eventos políticos do partido a que pertence.

As divergências entre o governador e a vice-governadora da Paraíba se estendem ao campo da sucessão presidencial. Embora filiado ao PSB, que examina a possibilidade de lançamento da candidatura do ex-ministro Joaquim Barbosa à presidência da República, Ricardo não tem simpatia por Barbosa. É, declaradamente, eleitor e fã do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Fez parte, por exemplo, da comitiva de governadores do Nordeste que foi barrada na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba ao tentar visitar Lula. Na saída, Ricardo deu declarações considerando Lula um preso político e avaliando como injusta a prisão dele. Antes do pré-lançamento de Joaquim Barbosa, Ricardo havia trazido Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff à Paraíba para a solenidade extra-oficial de recepção das águas da transposição do rio São Francisco. As ligações entre Ricardo e o petismo são cada vez mais estreitas, praticamente sinalizando uma tendência do governador paraibano de retornar ao primeiro partido político em que militou, como vereador e deputado estadual, somente dele saindo quando sentiu rifada a sua pretensão de ser candidato a prefeito de João Pessoa. Foi quando migrou para o PSB, elegendo-se duas vezes à prefeitura e duas vezes ao governo do Estado.

A pré-candidatura de Lígia ao governo da Paraíba, independente do apoio ou não de Ricardo Coutinho, faz parte da estratégia da cúpula nacional do PDT para assegurar palanques nos Estados ao pré-candidato a presidente da República, Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro da Integração Nacional. Embora tenha recebido Ciro numa de suas visitas à Paraíba, em nenhum momento o governador Ricardo Coutinho acenou com perspectiva de apoio a uma candidatura dele ao Planalto. Quanto a Lígia Feliciano, foi convidada para compor a chapa em 2014 na undécima hora do prazo legal de registro, pela sua condição de representante de Campina Grande. O governador nunca falou de afinidades maiores com sua vice e com o marido desta, deputado Damião Feliciano, o que reforça a especulação de que a aliança em 2014 foi por conveniência.

Nonato Guedes

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