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Brasil

Pai acusado de racismo se diz surpreso com repercussão de foto na internet

Os personagens do filme Aladim serviram de inspiração.

Da Redação do Diamante Online

10/02/2016 às 16:26 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Foram dois anos de espera até a chegada de Mateus. Diferentemente de uma gestação comum, o primeiro filho de Fernando Bustamante e sua mulher, Cynthia, veio através de um longo processo de adoção. O menino tinha apenas três meses quando encontrou aqueles que viriam a ser os seus pais. Hoje, aos 2 anos, é uma criança que gosta de desenhos e se envolve no universo lúdico dos pais, que trabalham com teatro infantil. Neste carnaval, a família resolveu se fantasiar para curtir a folia. Os personagens do filme Aladim serviram de inspiração. Fernando virou o próprio menino do tapete voador, a mulher se tornou Jasmine e o filho veio caracterizado como o fiel amigo de Aladim, o macaco Abu. Mateus, filho de Fernando e Cintia, é negro. A imagem da família se divertindo no carnaval caiu nas redes sociais e os pais da criança foram acusados de racismo.

— Foi ingenuidade da minha parte. No mundo ideal, a gente não teria que ter ressalva em escolher uma fantasia para o nosso filho. Fui muito idealista, talvez tenha que ser mais realista. O Abu é o melhor amigo do Aladim, o confidente e companheiro dele. O Mateus é isso para mim. A escolha foi por isso e não por ser um macaco. Poderia ser qualquer animal, um pássaro... Não pensamos em outra coisa. A fantasia fazia parte do acervo do nosso trabalho — justifica Fernando, que ficou surpreso com a repercussão da foto: — A minha preocupação agora é com a nossa integridade física e mental. Tenho recebido muitas mensagens de ódio. Foram duas mil mensagens ao todo, entre apoio e crítica. A foto da internet é descontextualizada.

A reportagem do Extra conversou com Fernando pelo telefone. Mateus estava dormindo. Mais cedo, ele tinha ido para a piscina com os pais.

— A nossa rotina segue normal. Tem que seguir por ele. Para o Mateus, nada está acontecendo. Antes mesmo dessa história acontecer, a gente já tinha decidido passar os próximos dias em casa. Vai ser assim. Vamos ficar descansado o resto do feriado — diz Fernando, que tenta elaborar a acusação de racismo que recebeu nas redes sociais: — Quando a gente adota uma criança como o Mateus, que é negro, a gente se blinda para o racismos dos outros. Todas as vezes em que eu fico sozinho com ele, sempre vai ter alguém perguntando se ele é adotado. Você se prepara para essas situações e para os olhares tortos dos outros. Nunca nos imaginamos sendo acusados de racistas. Mateus é nosso filho. Passamos por um processo longo para adotá-lo, processo esse que é importante, porque é algo que envolve o amor por uma criança.

Apesar do susto, Fernando afirma que tenta entender as críticas:
— Tento, de verdade, entender o outro lado. Recebi mensagens de amigos meus negros me falando que essa era uma oportunidade para eu pensar o outro lado, a questão histórica, que é preciso ter certo cuidado. Eu fiz a escolha de ser o pai do Mateus e, por ele, vou ter que encarar esse mundo realista.

A família ainda não sabe se vai tomar alguma medida legal sobre o caso.

— Não sabemos como lidar ainda. Não temos ideia de como é juridicamente falando. Por enquanto, não vamos fazer nada. Não deu para pensar nisso. A nossa vida é voltada para o Mateus, para as coisas dele. A ideia é manter a nossa rotina de forma normal.

No último aniversário, a família escolheu como tema "O pequeno príncipe", do francês Antoine de Saint-Exupéry. Mateus era o personagem-título.

— Ele é o nosso príncipe — diz Fernando.

Extra

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