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Brasil

PT diz que escolha de Moro por Bolsonaro confirma parcialidade do juiz

A sentença final de Lula, reforçada por magistrados do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, foi elevada para 12 anos de detenção.

Da Redação do Diamante Online

01/11/2018 às 13:16 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Uma reunião, hoje, entre o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e o juiz Sérgio Moro deve decidir a participação ou não do magistrado na equipe da futura gestão. Um dos principais expoentes da Operação Lava-Jato, que condenou e mandou para a cadeia empresários, políticos petistas e de outros partidos, além de outros figurões da República, Moro foi cogitado para ocupar o ministério da Justiça que, no seu caso, assumiria funções de superministério, mas Bolsonaro também sinalizou com a possibilidade de nomeá-lo futuramente ministro do Supremo Tribunal Federal.

A participação de Moro na equipe de Bolsonaro já provocou críticas dos seus inimigos. Advogados do Partido dos Trabalhadores estão invocando a provável nomeação de Moro para o ministério como prova irrefutável de parcialidade do juiz no exame das acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ele condenado sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença final de Lula, reforçada por magistrados do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, foi elevada para 12 anos de detenção. Os advogados ganharam alento para pedir a soltura de Lula e a revisão dos processos a que ele responde.

Abordado pela imprensa sobre o convite de Bolsonaro para ser ministro, Sérgio Moro declarou-se lisonjeado e respondeu que iria fazer uma reflexão sobre a conveniência de se investir, ou não, no cargo. Nascido em primeiro de agosto de 1972 em Ponta Grossa e criado na cidade de Maringá, no Paraná, o juiz da Operação Lava-Jato tornou-se celebridade no Brasil e no exterior, pela coragem demonstrada ao denunciar figuras de destaque no cenário político, como o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, e os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Ele ganhou a alcunha de ”inimigo número um” do PT e o ex-presidente Lula, que chegou a prestar depoimento a ele em Curitiba, é um dos seus críticos mais impenitentes. No ambiente jurídico, Moro é respeitado pela sua bagagem intelectual e pelo papel que tem desempenhado numa quadra das mais difíceis da conjuntura institucional brasileira.

Formado em Direito na turma de 1995 da UEM, Moro é descrito por antigos colegas como um estudante de ensino superior aplicado – e buscou rapidamente se estabelecer como juiz federal. Casado com a doutora Rosangela Wolff Moro, que também atua na Justiça, dela recebeu integral solidariedade nos momentos críticos que enfrentou, inclusive, com ameaças de morte, pela postura independente que assumiu no contexto da Lava-Jato. Em toda a sua carreira, atuou em pelo menos 1 200 processos em apenas vinte anos de atuação profissional. Um fenômeno único, descreveu a jornalista Joice Hasselmann, em livro. Ela foi eleita este ano para uma cadeira no Congresso Nacional.

Embora acusado inúmeras vezes de ser simpatizante do PSDB, Sérgio Moro já assinou sentenças que desagradaram o então presidente Fernando Henrique Cardoso, já que atuou como um crítico à política econômica posta em prática por FHC. “Moro sempre atuou com independência visível, inclusive, dos interesses econômicos”, define Joice Hasselmann. Esteve no exterior em busca de aprimoramento profissional, tendo realizado o programa de instrução de advogados da Escola de Direito da Universidade Harvard, em1998. Nos EUA, ainda, participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro por meio do InternationalVisitorsProgram, todos promovidos pelo Departamento de Estado americano. Moro é visto como juiz linha-dura por sua atuação na Lava-Jato e sua indicação para um ministério remodelado reforça o discurso de Bolsonaro de Segurança Pública e combate à corrupção.

Nonato Guedes

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