Brasil
Segurança filmado com barra atrás de cachorro nega intenção de feri-lo
Homem é investigado pela Polícia Civil por suspeita de maus-tratos em Osasco
Da Redação do Diamante Online
08/12/2018 às 15:22 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21
O segurança do supermercado Carrefour em Osasco, na Grande São Paulo, que aparece num vídeo espantando um cachorro abandonado com uma barra, na semana passada, alegou na última quinta-feira (6), em depoimento à Polícia Civil, que não quis ferir o animal. Ele é investigado por suspeita de maus-tratos.
Imagens mostram o cão sangrando na pata traseira esquerda antes de ser laçado e levado por funcionários da prefeitura para uma unidade de socorro, onde morreu. Segundo a veterinária que o atendeu disse à investigação, Manchinha, como o bicho era conhecido, entrou em óbito em decorrência de hemorragia.
Por meio de nota enviada na noite desta sexta-feira (7) ao G1, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o segurança do supermercado, que não teve o nome divulgado, “declarou em seu depoimento que acertou o cão com a barra de alumínio de forma não-intencional no estacionamento da loja.”
Ainda, segundo a pasta da Segurança, o segurança do Carrefour “teria usado a barra para bater no chão com objetivo de afugentar o cão e só percebeu que tinha acertado o animal quando este voltou à loja já sangrando.”
O segurança ainda declarou à investigação que só foi retirar o animal do local após ordens de cima. “Segundo ele, o animal rosnou ao ser retirado da área interna da loja pelo funcionário, que alegou ter feito isso a pedido de seus superiores”.
O caso Manchinha repercutiu nas redes sociais. A Delegacia de Polícia de Investigações Sobre o Meio Ambiente investiga o que pode ter causado a morte do bicho e as eventuais responsabilidades por ela.
Entre as prováveis hipótese estão: um corte na pata traseira do cachorro causado pela barra usada pelo segurança; um enforcador usado por um funcionário da prefeitura para laçar o pescoço do bicho, asfixiando-o, ou ainda se ele foi envenenado ou atropelado.
Abuso
O segurança está em liberdade e deverá responder futuramente por abuso a animais, que está previsto no artigo 32 da Lei número 9.605/98 de Crimes Ambientais. São enquadrados nesse artigo da lei quem fere ou mutila animais domésticos, silvestres, nativos ou exóticos. Se condenado, o agressor pode receber pena de detenção de três meses a um ano, além de multa.
Em tese, o segurança do Carrefour poderá ser indiciado, isto é, responsabilizado formalmente pelo crime. O G1 não conseguiu localizar a defesa do investigado para comentar o assunto.
“A Delegacia de Investigações sobre o Meio Ambiente deve concluir o inquérito na próxima semana, após oitiva de mais três testemunhas, e encaminhar ao poder judiciário”, informa outro trecho da nota da Segurança Pública. Mais de 20 pessoas já foram ouvidas.
Por conta da repercussão do caso, a delegada Silvia Fagundes não está dando mais entrevistas sob a alegação de que isso pode atrapalhar a investigação.
Vídeos e fotos
As câmeras do supermercado não flagraram o momento que o segurança agride Manchinha.
Vídeos feitos por quem estava no local ainda registraram funcionários do Departamento Animal de Osasco usarem uma enforcadeira para laçar o pescoço do cachorro. Eles estavam resgatando o animal para leva-lo à unidade da prefeitura. Mas nas imagens é possível ver o bicho se debatendo e depois desmaiando.
Sangramento
Levado ao Departamento Animal, Manchinha foi atendido por uma veterinária que prestou depoimento à polícia. No boletim de ocorrência do caso, foi informado que Manchinha chegou “desfalecido e agonizando” à unidade prefeitura, sendo “diagnosticado” com “hemorragia digestiva alta”.
Posteriormente, após “manobras de reanimação”, o cão “apresentou parada respiratória” e veio “a óbito”, quase três horas após ter sido resgatado.
“Como o órgão havia sido informado que se trataria de um atropelamento, realizou a cremação, de acordo com os procedimentos”, informa nota da SSP a respeito do caso.
Mas com cremação do bicho em Mauá, outra cidade da Grande São Paulo, não foi possível fazer o laudo necroscópico dele. Por esse motivo, a médica que o atendeu foi ouvida novamente para esclarecer alguns pontos que a investigação tinha dúvidas. Também há relatos de testemunhas de que o cachorro teria sido envenenado ou até mesmo atropelado.
Além de analisar as câmeras de segurança e fotos do caso Manchinha, que foram amplamente divulgadas e compartilhadas na internet e em aplicativos de celulares por ativistas, a delegacia busca mais vídeos que possam ter gravado o momento que o cão foi agredido.
Carrefour
Por meio de nota enviada à imprensa, o Carrefour informou que afastou o segurança que aparece espantando Manchinha com uma barra.
O supermercado ainda comunicou que “reconhece que um grave problema ocorreu em sua loja de Osasco” e que a “empresa não vai se eximir de sua responsabilidade”.
“Estamos tristes com a morte desse animal, pois já era considerado um mascote por alguns colaboradores”, informa outro trecho da nota do Carrefour. Manchinha ficava no estacionamento do Carrefour, onde era alimentado por clientes e funcionários. Era considerado um cão dócil.
Prefeitura
Também por nota, a prefeitura de Osasco informou que o Departamento Animal fez o procedimento padrão para recolher Manchinha.
“O manejo foi realizado por um oficial de controle animal qualificado e o animal foi encaminhado ao departamento para atendimento emergencial”, informa o comunicado da administração pública.
“O animal deu entrada consciente no departamento em decúbito lateral (deitado de lado), mucosas anêmicas, hipotensão severa (pressão baixa), hipotermia intensa, hematêmese (vômito com sangue) e escoriações múltiplas”, informa outro trecho da nota. “Apesar do tratamento instituído, o animal veio a óbito”.
Mesmo assim, nota da Secretaria da Segurança informa que “segundo o que apurou a Polícia até o momento, o Carrefour não prestou socorro ao animal, tendo apenas acionado o Centro de Zoonoses”.
Ministério Público
O Ministério Público (MP) de Osasco também instaurou inquérito para acompanhar a investigação policial. O caso está com o promotor Marco Antônio de Souza, que, segundo a assessoria de imprensa do MP, ainda não quer comentar o assunto porque "o inquérito Civil instaurado está na fase inicial."
Portal G1
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