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Brasil

Em situação crítica, sete estados deveriam decretar lockdown

Medida foi implementada como última cartada em países como França, Itália e Espanha.

Da Redação do Diamante Online

09/05/2020 às 11:36 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Sete estados brasileiros têm o sistema de saúde estrangulado pela falta de leitos hospitalares e acumulam condições que tornariam o lockdown a política mais eficiente contra a Covid-19, segundo levantamento do GLOBO a partir de dados fornecidos pelas secretarias estaduais. São eles: Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo — todos com mais de 80% das vagas de UTI ocupadas.

O estado com maior taxa de ocupação é Pernambuco, com 98% dos leitos de unidades intensivas usados por pacientes com o novo coronavírus. Além das vagas escassas, o Brasil ainda não conseguiu reduzir a taxa de contágio, com cada contaminado transmitindo a doença para quase três pessoas, segundo dados do Imperial College — número que também deve ser considerado para tomada de medidas mais drásticas.

Ontem, o Brasil bateu recorde de mortes registradas em 24 horas: 751 óbitos, além de 10.222 novos casos. O país acumula 9.897 mortes e 145.328 diagnosticados. Mesmo diante da escalada dos números e da necessidade de medidas de isolamento, defendidas por especialistas, o presidente Jair Bolsonaro reforçou que a responsabilidade pela manutenção do fechamento do comércio é de governadores e prefeitos.


— Sabe que a decisão de fechar o comércio é dos governadores e prefeitos, não é minha. Se fosse minha, eu teria uma posição um pouco diferente da que eles estão tomando aí. Se dependesse de mim, grande parte já estaria trabalhando. Outra grande parte não teria deixado de trabalhar — disse Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

Um estudo publicado ontem pelo Imperial College, de Londres, apontou que o surto do novo coronavírus no Brasil apenas começou e que, embora as medidas de distanciamento tenham diminuído a disseminação, a situação irá piorar caso não sejam adotadas formas mais rígidas de isolamento. Segundo o estudo, a doença ainda está fora de controle no Brasil.

Última cartada


“Em nenhum estado do Brasil nossos resultados indicam que a imunidade de rebanho está próxima de ser atingida, sublinhando o estágio inicial da epidemia no Brasil atualmente e a possibilidade de a situação piorar, a não ser que outras medidas de controle sejam adotadas”, afirma o estudo.

Adotado como última cartada em países como França, Itália e Espanha, o lockdown é visto como uma radicalização das medidas de isolamento social, uma vez que a quarentena decretada após a chegada da Covid-19 não obteve a adesão esperada da população.

Entenda:Como funcionam as medidas de um lockdown

No Brasil, segundo o Imperial College, cada infectado transmite a doença para três pessoas. É o maior índice visto no levantamento, realizado em 48 nações. Se menos pessoas estão na rua, há menos possibilidade de contágio.

São Luís, Fortaleza e Belém iniciaram nesta semana o confinamento obrigatório da população, e governantes cogitam aplicar multas em indivíduos que circulam sem obedecer as restrições previstas nos decretos municipais. Niterói adotará a medida na segunda-feira. No lockdown, é proibida a saída de veículos particulares e o funcionamento de serviços não essenciais — entre os permitidos estão os supermercados e as farmácias.

O confinamento tem sido visto como tentativa de remediar o quadro caótico provocado pelo coronavírus nos hospitais. No estado do Rio, que cogita aderir ao lockdown, 353 pacientes da rede pública com suspeita ou diagnóstico aguardam transferência para UTIs, que podem ser reguladas para as diferentes redes, seja ela municipal, estadual ou federal.

— Hoje, a fila para a UTI é a fila para o enterro — afirma o oncologista Daniel Tabak, um dos membros da comissão: — Nossa rede hospitalar não dá conta dos casos, vemos pacientes deitados em maca nos corredores dos hospitais públicos, e muitas pessoas morrem em casa, sem ter feito um teste que apontasse a doença. Mas como vamos impedir as pessoas de circularem nas ruas se não houver como garantir sua subsistência?

Edison Bueno, chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, também lamenta o atraso no combate ao coronavírus, inflado, em muitos casos, pelo negacionismo de teorias científicas. O confinamento pode ser uma saída para localidades onde mais de 80% dos leitos hospitalares estão ocupados, diz ele. Essa política, no entanto, demora a colher resultados e, por isso, pode enfrentar resistência da população:

— As pessoas que foram infectadas recentemente demoram de duas a três semanas para desenvolver os sintomas da Covid-19, e depois disso podem ser internadas, ficando até um mês no hospital. Se o confinamento já tiver sido instituído, a população pode ver esses casos e pensar que aconteceram enquanto ela estava trancada, então vai achar que o lockdown não está dando certo.

O Globo

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