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Esportes

Fundador da Chute Boxe desabafa sobre o Spider: "Foi o primeiro traíra"

Rudimar Fedrigo diz que se decepcionou com a ingratidão de Anderson Silva ao deixar a equipe

Da Redação do Diamante Online

12/05/2016 às 15:44 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

A fala pausada e calma, o tom de voz baixo e o sorriso fácil escondem opiniões fortes ditas com segurança. Em entrevista exclusiva concedida ao Combate.com na sede da Chute Boxe, em Curitiba, Rudimar Fedrigo, fundador de uma das mais conceituadas equipes de luta de todos os tempos, não fugiu do assunto que mais o incomodou em 38 anos de existência da equipe: a biografia de Anderson Silva, na qual o lutador o acusou de ter sido o responsável pelo seu afastamento do Pride após sua saída da equipe. O bate-papo aconteceu na tarde da última terça-feira, dia 10 de maio, horas antes de ser anunciada a saída do Spider do UFC 198.

Fedrigo, que disse ter sido esta a última vez que falou no assunto, por este não lhe fazer bem, detalhou os fatos e disse que o processo que move contra o Spider continua tramitando na Justiça.

Confira a entrevista

O senhor possui alguma relação com os lutadores que estão no card do UFC 198?

A Cris treina aqui, estamos sempre em contato e sou também um conselheiro, ela está sempre querendo a minha opinião. Faz tempo que eu não encontro o Shogun, mas é normal, com cordialidade. Werdum também faz um tempo que eu não encontro, mas esses dias falei com ele pelo telefone. E o Anderson eu não tenho contato.

Houve uma desavença entre vocês. O que aconteceu?

Ele escreveu uma biografia falando algumas coisas desagradáveis e isso até virou uma situação meio complicada, meio chata. Foi completamente desnecessário. Eu fiquei surpreso porque pessoalmente, estando frente a frente, ele teve sempre a oportunidade de falar e não falou nada para mim.

A partir daí vocês cortaram relações?

Na verdade, desde que ele saiu da academia eu já não tinha mais contato com ele. Passaram muitos anos, né?

O sentimento foi de traição?

Não, foi de ingratidão mesmo. Ingratidão de lembrar que foi produzido dentro da academia. Eu apresentei a ele os meus eventos, os eventos internacionais. Ele também treinou, teve acesso à técnica, à filosofia. Inclusive ele mesmo reconhece no livro que era uma filosofia vencedora. Como ele mesmo lembrou, na primeira luta contra o Chael Sonnen, quando ele estava perdendo e indo para o córner, lembrou: "Eu sou Chute Boxe, o cara não vai me ganhar nunca". Ele reconhece essa filosofia. Achei desnecessário aquilo, ingratidão mesmo. E ingratidão é o pecado que o homem menos reconhece em si. Não posso fazer nada se uma pessoa é ingrata.
Rudimar Fedrigo (Foto: Jason Silva)
Fedrigo diz que torceria por Anderson no UFC 198 antes de saber que ele não estaria no evento (Foto: Jason Silva)

O senhor vai torcer por ele?

Vou torcer para ele, porque automaticamente ele é ligado à Chute Boxe até hoje (risos). Quando o cara ganha as pessoas vêm me dar parabéns. Então eu vou torcer por ele...

O processo contra o Anderson foi adiante?

Sim, ele continua sendo discutido, porque ele falou inverdades, coisas desnecessárias, totalmente. A pessoa pode até ter uma opinião a seu respeito, mas eu acho que ele quis denegrir a minha imagem de uma maneira desnecessária. Ainda bem que eu continuo sendo reconhecido como um grande professor, um cara das artes marciais, mas foi uma coisa que me chateou bastante mesmo.

Vocês conversaram pessoalmente depois do episódio do livro? Ele tentou lhe procurar ou o senhor teve vontade de ligar para ele?

Não.

Além do Anderson Silva, há algum outro atleta com quem o senhor não fala?

Ele e mais alguns, mas não muitos. Dá para contar nos dedos, são uns três mais ou menos. Me considero vitorioso de ser um líder e, nessa história toda, ter um legado tão grande. A academia tem cinco mil alunos só aqui. Depois foi para São Paulo, onde extraordinariamente cresce. Minas Gerais, Santa Catarina, nos Estados Unidos são quatro unidades, no Japão está reabrindo, na Austrália também tem, na Espanha também tem. É uma academia mundial hoje. Qualquer lutador respeita a Chute Boxe. Sério mesmo, eu encontro uns caras conhecidos no elevador, lutadores, que perguntam quanto é uma camiseta da academia.

Qual seu maior orgulho e a sua maior decepção?

Acho que o que deu maior orgulho para a Chute Boxe, sem dúvida nenhuma, foi o Wanderlei Silva. Foi o grande nome que divulgou a academia internacionalmente, e também divulgando o espírito da academia e abrindo portas para os outros atletas. Ele foi muito legal nisso. Ele falava: "Olha, eu luto e, como eu, tem outros atletas que lutam também". Então ele abriu para os companheiros. A minha maior decepção até o momento, sem dúvida, foi o Anderson. Eu esperava que ele tivesse um pouco de gratidão, o mínimo que seja, por ele ter tido a passagem na academia, de ter tido as oportunidades que teve. Ele foi campeão pela academia em um Shotoo no Japão pela Chute Boxe. Achei desnecessário aquilo, foi desagradável. Outras pessoas ficaram tristes, chateadas também. Foi completamente desnecessário e parece que foi de uma maneira vingativa, boba.

O senhor acredita que ele se achava maior que a equipe?

Não, acho que não foi por aí. É difícil, mas eu penso que o Anderson decidiu sair da academia e houve um boato que era por causa das relações contratuais, por ele não estar tendo acesso aos contratos e de fato teve vários eventos, inclusive o Pride, acabaram não fazendo na palavra. E tem vários eventos em que acontece esse tipo de situação.

O que seria fazer na palavra? Combinar algo e não cumprir?

Não, não em relação a isso. É em relação a fazer o contrato da luta mesmo. Eu sei que ele decidiu sair da academia e, de uma certa forma, o promotor do evento não gostou também disso. Considerou uma coisa não muito legal. Imagina, o cara é dono do evento. Eu vou chegar para o dono do evento e vou falar: "Olha, eu não quero que José lute aqui"? Isso é impossível no maior evento do mundo. Talvez ele ache que ele ficou sem lutar lá um grande tempo por ter saído da academia. Pode até ter ocorrido do presidente não ter gostado muito e ter colocado, de fato, ele na geladeira. Isso é um problema de quem faz o evento. Não era eu que fazia o evento, que escolhia quem iria lutar e quem não ia lutar. Foi uma maneira, eu acho, errônea de ter pensado dessa forma.

O senhor tentou convencê-lo a permanecer na Chute Boxe? Como foi a sua conversa com ele?

Não tentei convencê-lo porque eu era mais rigoroso, mais duro. Pensava "Por que quer sair da academia?" "Ah por causa disso...". "Está decidido?" "Estou" "Quer sair?" "Quero". "Não é por problema contratual?" "Não, não quero nem ver os contratos". Estávamos dentro do carro e eu disse a ele. "Estão aqui os contratos, você quer ver?" E ele disse: "Não, eu não quero ver nada. Eu quero sair". "Quer sair? Então está bom". Foi isso, a nossa conversa foi assim. Uma conversa rápida.

Qual o sentimento que o senhor teve com essa decisão dele?

O sentimento? Eu fiquei chateado, porque logo em seguida ele foi para a equipe oponente. Foi o primeiro grande "traíra", vamos dizer assim, por causa da rivalidade que tinha. Hoje pode ser até normal. Mas ele escolheu logo uma academia rival.

Como ficou o clima com os membros da Chute Boxe?

Ninguém falava nada, mas com certeza não foi aprovado pelas outras pessoas.

Alguém mais sentiu a saída dele?


Não, o mundo continuou seguindo, com o trabalho ali. É normal.

O Anderson era uma pessoa de comportamento estranho na academia?

Não, eu sempre o admirei muito, sempre o tratei muito bem. Eu fui para o Japão, ele me beijou no rosto e eu falei que quem daria os treinamentos na minha ausência seria o Anderson. Eu estou no Japão e me falam "Pô os caras estão fazendo uma reunião, não sei o que, e o Anderson vai sair da academia". Foi assim que aconteceu. E quando eu volto temos essa conversa que eu falei, no carro. Mas assim, fui para o Japão e deixei ele à vontade para dar os treinamentos.

Nunca havia passado pela sua cabeça que ele poderia deixar a equipe naquele momento?

Nunca, nunca. Ele era um cara legal, tirador de sarro, trazia uma energia boa. Eu lembro que teve uma luta boa com o Wanderlei em que o pessoal não estava fazendo muito sparring e ele se propunha a ir lá, mesmo sendo mais leve. Chegava lá, passava vaselina no corpo inteiro e saía na porrada com o Wanderlei. Aparentemente ele era um cara de equipe.

O UFC 198, neste sábado, está previsto para começar às 19h45 (horário de Brasília), com a primeira luta do card preliminar. O Combate.com fará a transmissão em tempo real do UFC 198 com todos os detalhes, e o Combate transmitirá todas as lutas ao vivo.

UFC 198

14 de maio de 2016, em Curitiba (PR)
CARD PRINCIPAL (a partir de 23h de Brasília):
Peso-pesado: Fabricio Werdum x Stipe Miocic
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Vitor Belfort
Peso-casado (até 63,5kg): Cris Cyborg x Leslie Smith
Peso-meio-pesado: Mauricio Shogun x Corey Anderson
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Bryan Barberena
CARD PRELIMINAR (a partir de 19h30 de Brasília):
Peso-meio-médio: Demian Maia x Matt Brown
Peso-médio: Thiago Marreta x Nate Marquardt
Peso-galo: John Lineker x Rob Font
Peso-meio-pesado: Rogério Minotouro x Patrick Cummins
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Yancy Medeiros
Peso-meio-médio: Serginho Moraes x Luan Chagas
Peso-pena: Renato Moicano x Zubaira Tukhugov

Combate.com

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