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Açúcar: Vilão ou Mocinho da saúde?

Para o aposentado Ronaldo Seixas, 74 anos, não há nada melhor que o açúcar para adoçar um café.

Da Redação do Diamante Online

20/06/2016 às 18:59 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

O açúcar é apontado há tempos como o vilão para a saúde. Porém, uma pesquisa mostrou que ele pode ser o mocinho nessa história. O estudo, “Consumo equilibrado: uma nova percepção sobre o açúcar” constatou que 73% das pessoas que consomem açúcar e praticam atividade física estão com o peso adequado. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Há quem prefira o adoçante. Contudo, outra pesquisa apontou que o adoçante artificial sucralose pode se tornar tóxico ao ser aquecido a 98 graus. Um cafezinho quente, por exemplo, já alcança essa temperatura. O cardiologista e chefe de nutrição do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Daniel Magnoni, declarou que, portanto, o açúcar é o mais indicado.

Para o aposentado Ronaldo Seixas, 74 anos, não há nada melhor que o açúcar para adoçar um café. Mas claro que deve-se haver um equilíbrio. “Eu sempre usei açúcar, mas isso não quer dizer que eu sempre exagerei. Já tentei tomar adoçante e não gostei. Acho que as pessoas tomam como sinônimo de coisa chique. Claro que ele é indicado para diabéticos, mas não é o meu caso”, disse.

Mesmo quando tomar adoçante faz parte de uma indicação médica há aqueles que dão uma escapulida de vez em quando. É o caso do militar reformado, Sérgio de Souza, 74 anos. “Eu preciso tomar adoçante porque sou diabético, mas admito que não gosto do sabor. Admito também que coloco o açúcar de vez em quando. Mas o meu médico disse que uma vez ou outra eu posso tomar, o que não posso é exagerar. Hoje me sinto bem, apesar da doença. Tenho apenas um problema na visão devido à doença”, declarou.

Entre utilizar o açúcar ou o adoçante, o artista plástico Carlos Silva, 44 anos, opta por nenhum. Ele está com sobrepeso, por isso decidiu mudar os hábitos. Há três meses toma o cafezinho puro. “Sempre consumi açúcar em excesso. Não só em cafés e sucos, mas comia alimentos doces como bolo e, principalmente, chocolate. Eu costumo andar de bicicleta, mas só uma vez por semana. Não acho que seja suficiente para perder peso. Estou tentando mudar isso também”, disse.

O cardiologista Daniel Magnoni, o açúcar é considerado prejudicial porque a população o enxerga isoladamente, se esquecendo de um componente importante, que é o estilo de vida. “O ingrediente só é negativo quando ingerido em grande quantidade e somado à uma vida de excessos, estresses e sedentarismo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 10% das calorias totais diárias podem ser obtidas via açúcar”, explicou.

É preciso se mexer

Segundo o endocrinologista e responsável pelo Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da USP, Dr. Marcio Mancini, o sedentarismo é um dos principais fatores em relação ao estilo de vida da população e ao desenvolvimento de doenças, como a obesidade. “Esse índice mostra que o ingrediente não é a principal causa da obesidade ou do sobrepeso, e sim um coadjuvante. Doenças como obesidade e diabetes são multifatoriais, ou seja, podem ter diversas causas, sendo que nenhuma delas é o consumo isolado do açúcar. No caso do diabetes, já sabemos que a sacarose não aumenta mais a glicemia do que outros carboidratos quando ingerida em quantidade equivalente. Isto é, o açúcar pode ser inserido em uma dieta saudável”, explica o endocrinologista.

O preparador físico Marcio Atalla reforçou a importância de se praticar atividade física. “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para adultos entre 18 e 64 anos é preciso pelo menos 150 minutos de atividade por semana, o que é aproximadamente 30 minutos por dia. Vale ressaltar que o movimento está relacionado à medicina preventiva”, orienta Atalla.

Quando o assunto é alimentação, é necessário haver um equilíbrio, destacou a nutricionista e proprietária da Recomendo Assessoria em Nutrição, Márcia Daskal, “Existe um terrorismo nutricional. Pessoas buscando dietas restritivas e da moda, se esquecendo do prazer de comer e, principalmente, do saber se alimentar. Nenhum exagero é saudável, seja o consumo excessivo ou escasso de determinado ingrediente”, salientou.

Conceitos de educação nutricional

Daniel Magnoni acredita que é preciso trabalhar os conceitos de educação nutricional com a população e ensinar de que forma o açúcar pode ser usado. “Há um certo grau de dificuldade para diferenciar o açúcar adicionado com o presente nos alimentos. É muito importante trabalhar junto à população os conceitos de rotulagem e de consumo consciente”, salienta o especialista.

Ele explicou que o açúcar adicionado é o açúcar do açucareiro, aquele que utilizamos para fazer receitas caseiras que utilizem o ingrediente, como nos doces e molhos. “Observamos, nos últimos tempos, uma redução na utilização desse ingrediente. As pessoas, de forma geral, reduziram o consumo do açúcar adicionado, seja nas residências, seja nos restaurantes. Todavia, ninguém precisa retirá-lo da dieta para ter uma vida saudável. Mesmo porque, o açúcar tem um papel fundamental no fornecimento de energia para o corpo”, explicou. Já o açúcar presente nos alimentos é o açúcar adicionado no preparo de alimentos industrializados ou o açúcar natural dos produtos vegetais.

Açúcar x Adoçante

Um estudo feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que o adoçante artificial sucralose – o mais consumido no mundo e, até agora, considerado pelas agências sanitárias o mais seguro – pode se tornar instável e liberar compostos potencialmente tóxicos ao ser aquecido a 98 ºC.

Rodrigo Ramos Catharino, professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores da Unicampl, informou que o resultado trouxe algo a mais em relação a outros estudos realizados sobre o assunto. “Trabalhos anteriores haviam mostrado que a sucralose se degrada em altas temperaturas – não usuais no dia a dia. Porém, observamos que isso também ocorre a 98 ºC, calor facilmente atingível durante o preparo de alimentos. Foi uma surpresa”, disse.

Ao aquecer a substância em banho-maria por cerca de 2 minutos, os pesquisadores da Unicamp notaram a liberação de compostos organoclorados tanto no gás proveniente da fervura como na fase sólida, ou seja, no caramelo que se formou após a fusão da sucralose. Essa classe de compostos é considerada potencialmente tóxica e tem efeito cumulativo no organismo. As análises foram feitas com auxílio de técnicas como termogravimetria, espectrometria de massas e espectroscopia no infravermelho.

Porém, o cardiologista Daniel Magnoni, afirmou que a análise sobre a toxidade da sucralose não está comprovada e que o adoçante pode ser recomendado em uma dieta de redução calórica. Mas, consumir o produto e praticar atividade física não deve ser equiparado a uma vida saudável. “Pois, não adianta trocar o açúcar por adoçante e continuar com exageros na alimentação”, disse.

Existe uma característica do adoçante que pode trazer complicações para o organismo. Como eles não têm calorias, apenas sabor, isto pode comprometer os mecanismos de absorção dos alimentos mais calóricos. “Isto reduz a eficiência da utilização da energia adquirida dos carboidratos e prejudica os mecanismos e saciedade”, explicou.

Entre o açúcar e o adoçante, o cardiologista afirmou que o primeiro é o mais indicado. “Nenhum alimento isoladamente faz mal à saúde e isso vale para os açúcares e adoçantes também. O segredo está no consumo equilibrado. Assim como qualquer alimento, o adoçante deve ser consumido dentro dos padrões adequados, mas é preferível consumir açúcar em pequenas quantidades”, disse.

Isto ocorre porque o adoçante é extremamente doce. O seu consumo faz com que as pessoas não se habituem ao sabor natural dos alimentos e se acostume com um sabor doce muito elevado. “Além disso, na prática, a ideia de que não tem calorias pode fazer com que as pessoas consumam mais”, disse.

O que revelou a pesquisa

88% dos que consomem açúcar afirmaram utilizar o ingrediente no chá ou café,

61,5% no preparo de sobremesas e bolos,

57% nos sucos e 42% no leite.

46% afirma ingerir doces (bolo, tortas etc) de uma a três vezes por semana

26% todos os dias.

71% dos entrevistados consomem açúcar habitualmente. Desse total, 46,5% utilizam o ingrediente de uma a três vezes na semana, sendo que a preferência (85%) é pelo tipo branco

Menos da metade dos entrevistados tem o costume de olhar os rótulos dos produtos (36%)

Os dados da pesquisa mostram que apenas 30% dos entrevistados praticam atividades físicas. Apesar da taxa baixa, desse total, 67% ingerem açúcar e, dos que consomem, a maioria mantem o peso adequado (73%).

- 71% dos entrevistados consomem açúcar habitualmente;

- 85% têm preferência pelo tipo branco;

- 88% afirmam adicionar açúcar ao café e ao chá;

- 26% ingerem alimentos açucarados todos os dias;

- 67% dos que praticam atividade física consomem açúcar. Destes, 73% têm o peso normal.

A recomendação máxima do uso diário pode ser calculada como: o peso do indivíduo - 25% = número de gotas. Ou seja, uma pessoa com 60 kg deve utilizar no máximo 45 gotas/dia.

Correio da Paraíba

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