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Paraíba

Explosão de bomba em cinema de Cajazeiras completa 43 anos cercada de mistério

Passadas pouco mais de quatro décadas, a explosão do Apolo XI em Cajazeiras continua a ser um caso misterioso e, do ponto de vista dos arquivos policiais, insolúvel em tese.

Da Redação do Diamante Online

25/01/2018 às 12:52 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

No dia dois de julho de 1975, a explosão de uma bomba no cine-teatro Apolo XI, então pertencente à diocese, na cidade de Cajazeiras, no Sertão paraibano, abalou os cerca de 30 mil habitantes da época, causou mortos e feridos e permanece, ainda hoje, cercada de mistério, sem que autoridades policiais e governamentais tenham relatado conclusões exatas sobre a autoria do atentado. A bomba, de fabricação caseira, mas de alto teor explosivo, tinha potencial para matar entre 100 e 150 pessoas se a explosão ocorresse com a sala de projeção cheia de espectadores.

Um detalhe intrigante restou do fatídico enredo do episódio: a valise verde com o artefato foi encontrado nas imediações da cadeira cativa do bispo dom Zacarias Rolim de Moura, um apaixonado por cinema, na descrição do escritor Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales), radicado no Recife e secretário de Planejamento do governo Ivan Bichara Sobreira, que administrava a Paraíba naquele período. Todas as noites, dom Zacarias, de posições moderadas ou conservadoras, ia ver os filmes que ele mesmo selecionava no Recife, junto às distribuidoras. O prelado, no entanto, não estava na plateia que assistia ao filme Sublime Renúncia, que tinha, no elenco, Romy Schneider. Numa cena de assalto a um banco, Romy abre uma caixa-forte que provoca explosão de bomba-relógio. Ficção e realidade misturaram-se na noite do dia dois de julho de 75 no cine Apolo XI. A época era de radicalização política entre grupos de esquerda e de direita, tendo como pano de fundo a ditadura civil-militar instaurada em 1964. Cajazeiras era pólo de agitação política e cultural. O bispo dom Zacarias, quando do atentado, estava no Recife, o que originou a especulação sobre se ele teria sido avisado previamente da explosão e aconselhado a se ausentar da cidade.

Dom Zacarias já faleceu, sem deixar qualquer depoimento elucidativo a respeito dos acontecimentos – pelo menos do domínio público. Também já morreu o ex-deputado estadual e suplente de senador João Bosco Braga Barreto, líder de massas em Cajazeiras, que liderou uma romaria a Juazeiro do Norte, Ceará, para agradecer votos recebidos em eleições naquela cidade. Bosco foi incomodado por agentes da Polícia Federal e ameaçado de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, mas nada ficou provado sobre sua participação no atentado. O soldado Altino Soares (Didi) teve as pernas amputadas e foi removido para o hospital Edson Ramalho em João Pessoa, juntamente com Manuel Severino. Ambos morreram. Outras duas pessoas ficaram feridas.

De acordo com o jornal oficial A União, a notícia só chegou a João Pessoa no dia três de julho, à tarde, quando passou pelo aeroporto Castro Pinto um avião da FAB conduzindo um coronel, um major e um capitão do Exército, integrantes de uma comissão designada para apurar o caso. O governador Ivan Bichara Sobreira – cujo centenário de nascimento transcorre este ano – ao visitar o cinema, ficou impressionado com os estragos causados pelo artefato mortífero e conversou com o bispo dom Zacarias demoradamente. O bispo deu declarações de que estava tranquilo. Não tenho inimigos. Se ideologicamente entro em divergência com outras pessoas, não vejo razão nenhuma para que isso justifique um atentado, pois sou apenas um discípulo de Deus, enfatizou. João Bosco Braga Barreto teve a solidariedade da Assembleia Legislativa e qualificou de ridículas e absurdas as insinuações de que ele teria sido mentor do atentado. Ainda recentemente, aproveitando a criação da Comissão Nacional da Verdade, com ramificações na Paraíba, o escritor e economista Francisco Cartaxo tentou interceder para a reabertura de investigações a fim de esclarecer, de uma vez por todas, as responsabilidades, mas o apelo não surtiu efeito mais conclusivo. Passadas pouco mais de quatro décadas, a explosão do Apolo XI em Cajazeiras continua a ser um caso misterioso e, do ponto de vista dos arquivos policiais, insolúvel em tese.

Nonato Guedes

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