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Paraíba

Novo tratamento ajuda casais com HIV a ter filhos, na Paraíba

Uma rotina sexual ou reprodutiva sem grandes limitações, graças à tecnologia farmacêutica.

Da Redação do Diamante Online

16/12/2018 às 13:17 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Adriano e Marta (nomes fictícios) são casados. Ele tem HIV. Ela não tem. Mas juntos, desejavam um filho biológico. Semana passada conseguiram engravidar, com praticamente zero chances de transmissão do vírus tanto para ela quanto para o bebê que virá, graças ao tratamento via Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que na Paraíba está sendo ofertado há quatro meses via SUS pelo Complexo de Doenças Infecto-Contagiosas Clementino Fraga, em João Pessoa. Na edição impressa do Jornal CORREIO deste domingo (16) você pode ler outras histórias.

A PrEP é a combinação de dois medicamentos: tenofovir + entricitabina, que juntos bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar o organismo. Tomando diariamente, a medicação pode impedir em mais de 90% dos casos que o HIV se estabeleça e se espalhe no corpo, possibilitando que quem o tome tenha relações sem uso do preservativo. Uma rotina sexual ou reprodutiva sem grandes limitações, graças à tecnologia farmacêutica.

Diretora do Clementino Fraga, Thaís Matos disse que foi o primeiro caso de gravidez de pessoas em uso da PrEP na Paraíba, um avanço quando se pensa em relações sexuais de pessoas sorodiscordantes. “É um planejamento. Comemoramos no hospital esta semana esta gravidez, porque ela atinge uma das metas da PrEP, que é a possibilidade de engravidar num casal sorodiscordante. Ele tem HIV, com uma carga viral indetectável; ela não tem HIV e está tomando a PrEP”, disse.

No total, 69 pessoas fazem uso da PrEP na Paraíba, segundo dados do Clementino Fraga. Destes, 47 são pessoas com parceiro sorodiscordante (sendo 30 delas pessoas heterossexuais e 17 homossexuais); 20 são homens que transam com homens; 6 são profissionais do sexo; e 1 pessoa trans.

Artur Silva (nome fictício), 26 anos, também utiliza o medicamento todos os dias. Por duas vezes, teve relações sexuais sem preservativo com pessoas de sorologia desconhecida. E por duas vezes ficou na janela imunológica, período de 30 dias utilizado pelo Ministério da Saúde para detectar a infecção pelo vírus HIV. Para não correr mais riscos, resolveu iniciar o tratamento por PrEP.

“Eu não consigo transar com camisinha. É mais fácil transar correndo o risco do que com camisinha. Já tentei várias vezes e para mim nunca foi bom. Quero ter uma vida sexual que me satisfaça, mas não quero correr o risco de pegar o HIV. Sei que tem tratamento e que hoje se vive normal, mas ainda assim não tem cura e quero ficar tranquilo ao transar. Estou tomando o medicamento e me sinto melhor comigo e com a experiência do sexo, mesmo sabendo que posso pegar outra doença”, disse.

Onde a PrEP é aplicada na Paraíba:

 Complexo de Doenças Infecto-Contagiosas Clementino Fraga

 Endereço: R. Esther Borges Bastos, 599 – Jaguaribe. João Pessoa

 Telefone:(83) 3218-5415

 Consultas PrEP: Terças e quintas, manhã e tarde.

 Acesso ao PEP: Todos os dias, porta de urgência.

  A médica infectologista do Hospital Universitário (HU) da UFPB e do Complexo Hospitalar Clementino Fraga, Joana D´Arc fala sobre o tratamento

 Existe o risco de banalização do sexo após implantação da PrEP?

 A banalização do sexo e o aumento do risco de se pegar outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) não tem ligação com a PrEP. Para implantar o medicamento aqui no Brasil, foram observados diversos estudos de pessoas em uso de PrEP e a possibilidade de contaminação por infecções sexualmente transmissíveis e não se observou, nestes grupos, aumento de casos quando comparado com a população em geral, que não usa a PrEP. Isso deixa claro que não é o medicamento que vai favorecer o aparecimento de outras doenças de transmissão sexual.

 Mas ainda há muita irresponsabilidade nas relações sexuais?

 A gente percebe que existe de um modo generalizado de um comportamento, sobretudo de pessoas jovens, que não se preocupa com a proteção no ato sexual, sobretudo porque não viram a cara da AIDS nos anos 80 e 90, quando a doença era grava. Então essas pessoas têm uma preocupação muito menor com o HIV e com a exposição a outras doenças de transmissão sexual.

 As taxas de novos casos de HIV seguem crescendo. Onde estamos errando?

 N a minha observação o que tem falhado é que o comportamento sexual ele precisa ser trabalhado desde muito cedo. Não é esperar a pessoa ter atividade sexual para poder divulgar e tentar sensibilizar para práticas sexuais seguras. Isso precisa acontecer no final da infância e início da adolescência, para que a pessoa inicie a atividade sexual com essa consciência. Mas mudar comportamento sexual das pessoas é muito difícil.

 A PrEP então é um meio de tentar diminuir isso?

 Sim, a própria estratégia da PrEP é tentar diminuir o número de casos. Porque você vai trabalhar as populações vulneráveis à contaminação. Quanto menos pessoas infectadas, menos transmissão. Neste aspecto, tanta a estratégia de PrEP, quanto de PEP (Profilaxia Pós-Exposição de Risco) são muito importantes.

 Ao meu ver, parecem medicamentos de ponta...

 Sim… Os dois medicamentos representam uma grande evolução. São antivirais combinados que tendem a agir muito rapidamente para não permitir que o vírus entre na célula. Do ponto de vista tecnológico e científico é um grande avanço. Ela trata antes de acontecer a infecção. A PEP já é ofertada em vários países, mas a PrEP ainda são poucos que adotam.

 Ofertar a PrEP e PEP coloca a Paraíba num certo pioneirismo?

 No contexto de Brasil, a gente percebe que existe sim um protagonismo da Paraíba nessas ações, uma vez que vários outros Estados do país ainda não conseguiram efetivamente implantar. Isso envolve toda uma dinâmica de serviço de referência, que tenha diversos profissionais treinados para esse serviço, porque não é só um médico, mas sim uma equipe multidisciplinar. A Paraíba está ofertando em João Pessoa é muito importante e mostra seu protagonismo na área de HIV.

 Patos e Campina devem ofertar próximo ano. Qual importância disso?

 É muito importante, isso precisa ser expandido. Na verdade há uma dificuldade de acesso dos pacientes dos municípios mais distantes de acessarem esses tratamentos. O que observamos é que a maioria das pessoas que estão em PrEP são pessoas com escolaridade maior e com melhor acesso à informação. Isso é em todo o país. Então precisamos isso precisa ser levado também para as pessoas com menor condição social e cultural para que elas entendam do que se trata a PrEP, daí a importância para que ela se interiorize.

Correio da Paraíba

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