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Paraíba

Mulher se torna professora após trabalhar por 11 anos na limpeza de escola

“Minha função era de limpar as salas. Até hoje eu limpo com muito orgulho”

Da Redação do Diamante Online

15/10/2020 às 13:22 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Acordar às 4h30. Viajar para outra cidade. Trabalhar dois turnos. Cuidar dos filhos, da casa e de si mesma. A rotina de Izabel Bolis Rodrigues, de 43 anos, é corrida. Mas, ela chega ao fim do dia com a sensação gratificante de fazer o que ama, de trabalhar com a educação, seja como professora ou auxiliar de serviços gerais, em escolas nos municípios de Campina Grande e Massaranduba, ambas no Agreste da Paraíba.

O sonho de lecionar começou ainda na infância, quando Izabel ajudava a alfabetizar as irmãs mais novas. Ela tinha a prática, mas faltava a teoria. No ano passado, aos 42 anos, a funcionária pública se formou em pedagogia. Ela enfrentou muitas dificuldades, que fizeram com que valorizasse ainda mais a meta que tinha.

Há 11 anos, a educadora foi aprovada em um concurso público e começou a trabalhar na função de auxiliar de serviços gerais em uma escola localizada em Campina Grande, no Agreste do estado.

“Minha função era de limpar as salas. Até hoje eu limpo as salas com muito orgulho. Fico observando todo o material, limpo as mesas e o quadro. O sonho [de ser professora] só foi aumentando”, contou.
As irmãs de Izabel se formaram no mesmo curso, sendo que antes dela. O orgulho foi sentido pela família inteira. O momento ficou marcado na memória de Izabel e se tornou estímulo para que ela perseverasse.

“Alguns anos atrás quando as minhas irmãs se formaram, minha mãe olhou assim para mim e falou: minha filha, agora só depende de você. Espero também ter essa felicidade de ver você se formar. Isso me deixou triste por um momento. Eu trabalhava demais e tinha esse sonho. Mas, ao mesmo tempo, foi um empurrão, porque na vida a gente tem que ter metas. E a minha era estar onde estou hoje”, declarou.
O futuro de Izabel, que agora se tornou o presente, é motivo de alegria para a mãe dela, que só conseguiu estudar até a antiga 5ª série do ensino fundamental. Já o pai dela é semianalfabeto. Contudo, a educação sempre foi prioridade para a família.

Obstáculos da graduação e ajuda da família
Mesmo determinada e sabendo onde queria chegar, os obstáculos sussurravam ao seu ouvido para induzi-la à desistência. Com dificuldades par pagar as mensalidades, ela desanimou, mas prosseguiu.

“Nem sempre eu tinha o valor para a parcela [da faculdade]. Mas no mês seguinte, meu esposo ou minha mãe me ajudavam e eu cobria as parcelas que estavam em atraso”, explicou.
As aulas aconteciam aos sábados e domingos durante o dia inteiro. No meio da semana, com muitos afazeres, o tempo dedicado aos estudos era sagrado.

Nos dias de aula, ela contava com o auxílio da mãe e do marido, que também é professor, para cuidar da casa e dos filhos. O filho mais velho, estudante de 22 anos, a ajudou com o trabalho de conclusão de curso (TCC). Ela o considera como um orientador do trabalho.

“Eu tinha muito apoio da minha família. Muitas vezes ele [filho] parava o [TCC] dele para poder me ajudar”, lembrou.

Aulas durante a pandemia de Covid-19
Logo após terminar o curso, Izabel foi chamada para dar aulas em uma escola particular de Massaranduba, município do Agreste paraibano. A primeira turma foi assumida em 2020, com 14 alunos.

Mas a professora passou pouco tempo dividindo a sala de aula com os pequenos. Devido à pandemia de Covid-19, ela precisou adotar o sistema de ensino remoto, o que considerou como um desafio.

Os problemas tecnológicos são os maiores empecilhos para ela e os estudantes.

“Alguns alunos não têm acesso [a recursos tecnológicos] por causa de problemas econômicos. Algumas vezes a aula está toda reparada e a internet cai. A maior dificuldade é a tecnologia. Não tem prazer maior do que estar em sala de aula com eles. Muito diferente de agora em que uma tela de celular nos separa”, ponderou.

Apesar de tudo, ela considera como ponto positivo o aumento de contato com os pais dos alunos. Izabel tem a consciência que o ofício de professor pede dedicação integral, mas mesmo assim, ela o ama.

“O professor é professor o tempo todo. Mas professor não repassa só ensinamento, mas amor, confiança e a lição de que vale a pena investir nos estudos. Eu acredito na educação. A educação transforma e nos dá asas”, destacou.
Izabel não pretende parar de investir na profissão que escolheu exercer. Ela se matriculou em um pós-graduação na área de psicopedagogia e educação especial. Os próximos passos reservam a essência da missão de ensinar e amar ao próximo.

G1.

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