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Política

Descrédito afasta eleitores das urnas nas eleições deste ano

O número de "não votos" também foi elevado em dois grandes colégios eleitorais

Da Redação do Diamante Online

06/11/2016 às 12:45 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Mesmo com a obrigatoriedade do voto milhões de brasileiros não compareceram às urnas nas eleições deste ano. O elevado índice tem preocupado a classe política que reconhece que os eleitores estão desacreditados e desmotivados, principalmente com os últimos acontecimentos e revelações de corrupção no País.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o número de eleitores que não compareceram às urnas no 1º turno, somado aos votos brancos e nulos, foi de mais de 25 milhões de pessoas (17,58% do eleitorado). No 2º turno, foram mais de 7 milhões (21,55%).

Na Paraíba esse número chegou a 354.886, o que corresponde a 12,28% do eleitorado de 2.889.721.

Para o professor e cientista político, Fábio Machado, o eleitor percebe a atmosfera viciada da classe política e transforma o protesto não participando do processo eleitoral. “Infelizmente a cultura no País é permeada pela corrupção e vem desestimulando a população ao longo dos anos. Os brasileiros não aguentam mais pagar tantos impostos e ver que o dinheiro não reverte em saúde e educação. Verte apenas em desvios para contas no exterior”, destacou.

Segundo o professor, o desenho institucional brasileiro também favorece a corrupção e isso acaba decepcionando os brasileiros que estão cada vez mais protestando não indo votar ou votando branco ou nulo. “É preciso uma reforma profunda de vergonha para que essa realidade mude. O Congresso tem que modificar o sistema de votação no Brasil”, afirmou.

Fábio Machado acredita que a democracia não combina com o voto obrigatório e defende a faculdade nas eleições brasileiras. “Se você é livre, não pode ser coagido a votar. Isso é paradoxo. O exercício da cidadania é livre”, ponderou.

Dados da Justiça Eleitoral mostram que a soma do número de votos brancos e nulos cresceu 37,8% em João Pessoa em comparação às de primeiro turno em 2012. Apesar do crescimento dos votos inválidos, o número de abstenções na capital paraibana caiu entre as duas eleições municipais. Mas se somados aos números de brancos e nulos, o percentual aumenta. Conforme o TSE, o número chega a 115.849 eleitores que deixaram de votar em algum candidato.

O número de "não votos" também foi elevado em dois grandes colégios eleitorais. Em Campina Grande foram 26.188 abstenções, sendo 6.107 brancos e 20.538 nulos. Já em Patos, registrou-se uma abstenção de 5.328, com 1.198 brancos e 2.844 nulos.

Abstenção é reação da população

O deputado federal Luiz Couto (PT) disse que a abstenção não tem uma relação com o voto facultativo ou obrigatório. Ela é uma reação do eleitorado ao comportamento da classe política. Outro fenômeno interessante para se perceber é que a direita não aumentou sua votação. A esquerda é que não conseguiu manter seu tamanho. O grande problema é que a reforma política não é feita. São remendos novos em panos velhos. O sistema político está carcomido e não pode ser remendado.

“O melhor modelo deve ser encontrado a partir de uma consulta ampla à população. Sou favorável a um debate com a sociedade sobre o tema e, depois, a realização de um plebiscito para verificar o que os brasileiros esperam do sistema. Depois, será preciso convocar uma Constituinte exclusiva para realizar a reforma política. E quando ela estiver pronta, deveria ser feito um referendo para ver se o povo aprova”, afirmou Couto.

O deputado Rômulo Gouveia (PSD) também acredita que os últimos escândalos envolvendo a classe política mexeram com os brasileiros. “Talvez essa conjuntura política é que levou ao alto índice de abstenção”, disse, afirmando que defende o fim do voto obrigatório.

Para o deputado Hugo Motta (PMDB), o resultado das eleições mostra a importância de se discutir dentro da reforma política, o fim ou não da obrigatoriedade do voto. “Essa foi uma forma que a população achou de protestar, não só contra a classe política, mas também sobre a forma com que as eleições vêm acontecendo. Temos que discutir isso a fundo no Congresso”, destacou.

Portal Correio

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