Menu
Direto da Redação

O sertão vai virar bar?; veja o que diz essa matéria

Seria bom que todos nós descasássemos dessas representações que há tanto tempo insistem em governar nossas cidades.

Da Redação do Diamante Online

13/02/2016 às 19:44 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

O filósofo francês Roland Barthes afirma que todo discurso é discurso de poder. O poder que impõe uma verdade irrefutável e inviolável. O poder que esmaga a ideologia de um povo menos favorecido, excluído de uma sociedade injusta e cheia de falácias políticas e aculturais. Esse é o discurso de alguns que tentam destruir os planos e os sonhos da nossa história, da nossa gente.

Vejo, por exemplo, no meu sertão a política como um ser tão mesquinho que tenta massacrar os projetos do batalhador, do trabalhador, dos adolescentes, das crianças, da família. Não, caros leitores, não falo aqui somente dos políticos atuais, nem de partidos, nem das políticas desatualizadas. Falo da ausência de práticas, do silenciamento, da invisibilidade da seca, da fome, da falta de educação, do niilismo.

No ano passado, realizamos na cidade de Itaporanga o maior evento educacional de toda a história do Vale do Piancó. Mais de 1.000 estudantes participaram de um aulão direcionado ao ENEM. Professores da nossa região, de Campina Grande e de João Pessoa, de forma beneficente, distribuíram conhecimento, informações e solidariedade. Crianças carentes receberam brinquedos. Cidadãos comuns ajudaram na realização. Visitamos uns 14 municípios do Vale à procura de algum apoio, e não valeu muita coisa. Prefeitos prometeram, prefeitos não cumpriram, vereadores sumiram. Alguns, achando pouco, dificultaram até a liberação do transporte escolar. Duas, acreditem, apenas duas prefeituras (Diamante e Boa Ventura) cumpriram com a “obrigação” de apoiar a cultura e o conhecimento.

É disso que falo. Descaso. Seria bom que todos nós descasássemos dessas representações que há tanto tempo insistem em governar nossas cidades. Mas muitos não podem porque dependem das esmolas, da mola que sucumbe a vontade de dizer um basta, dessa roda viva maldita chamada corrupção, dos cargos comissionados, de arame, de arroz, feijão, geladeira, bujão, feira. E isso nos leva ao caos. Somos ofuscados pelos veículos luxuosos e roupas cintilantes. Pela fragrância. Pelo medo. Por nós mesmos. Pela seca.

Ah! A velha seca. A seca que seca e culmina a nossa vida, a nossa esperança. Falta água para o banho, para o gado, para a sede. Sem água, pessoas e animais morrem, e tudo se deforma em plena época da tecnologia, da globalização, com o nosso sertão teimando em retroceder às décadas de 70/80 (pra citar as que presenciei), em que carros-pipa circulavam a cidade, jegues serviam de transportes, água era vendida.

Mas vale salientar que a tecnologia está presente na nossa região. Ela trouxe computadores, fechou bibliotecas e abriu caminho para os poços que privilegiam apenas uma classe superior. Perfuram poços os mais abastados. Perfuram covas os menos favorecidos. E vamos vivendo assim, bebendo no cálice, no cale-se. E vamos vivendo assim, festejando sem perceber, nos bares, nos lares, nos confins de uma festa à fantasia.

Ivo Teixeira de Araújo Filho

Tópicos
Anúncio full