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Direto da Redação

Os curandeiros, os benzendeiros e as parteiras, em Diamante (PB). Por Titico Pegado

Pela valorização do conhecimento e “saúde popular”

Da Redação do Diamante Online

17/02/2016 às 04:04 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Prof. Dr. Francisco José Pegado Abílio

As PARTEIRAS são os primeiros seres viventes a olhar nos olhos de mais um "novo" diamantense vir ao mundo.

Até a hora do parto, nenhum vivente teria visto a cara do recém nascido, mesmo porque essa tal de ultra-sonografia era coisa que ninguém sabia da sua existência (ARAÚJO; ARAÚJO, 2010, p. 94).

As mais conhecidas parteiras do município de Diamante foram “Mãe Severina” (uma das primeiras da cidade que veio de Princesa Isabel-PB) e Mãe Rufina (da família dos Jacó) das décadas de 1930 - 1940.

Nos anos de 1940 – 1960 - “Mulicados Vaqueiro”; Bela (que foi criada pela família dos Marçal Abílio); “Francisca de Lôlô (mais conhecida como Chica de Loló); “Mulica dos Gonçalo”; Maria Vicente (mãe de João Vicente);

Nos anos de 1970 - 1980: Maria Furtado (conhecida como Maria Montenegro, era esposa de Manoel Montenegro); Quininha (filha de Maria Montenegro); Expedita Furtado (Figura01 e 02);

Figura 01 - "Mãe Maria Montenegro" e seu esposo Manoel Montenegro e seus filhos. Da direita para esquerda: Francisco Sobrinho; Francisco Esmeraldo; Francisca Ilda; Francisca Eunice; Francisco Donizete. 

Figura 02. (da esquerda para a direita) - Francisca Ilda Montenegro; Ocilma Abílio Diniz; Francisca Francinete Montenegro; Berenice Pegado Abílio; Maria Furtado Caetano; Sueli Furtado.

Na cultura e música nordestina a “Samarica parteira” (Figura 03), popularizada pelo grande poeta e cantor Luiz Gonzaga. Como no trecho dos versos a seguir :

[...] Pegue D. Juvita, mastigue essa capinha de fumo e não se incomode. É do bom! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando] Mastiga o fumo, D. Juvita... Capitão Barbino, tem cibola do Cabrobró?

- Ai Samarica! Cebola não, que eu espirro.

- Pois é prá espirrar mesmo minha fia, ajuda. (- Ui).

- Aproveite a dor, minha fia. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando] Mastigue o fumo D. Juvita.

- Capitão Barbiiino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando alto].

- Ai Samarica, se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo dessevéi macho.

- Pois é assim merm minha fia, vosmecê casou com o vein pensando que ela num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fia. Desde que o mundo é muundo, que a muié tem que passar por esse pedacinh. Ai, que saudade! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando alto].Mastigue o fumo, D. Juvita.

- Ai, que dô! (- Aproveite a dô, minha fia. Dê uma garrafa pr ela soprá, dê. Ô, muié, hein? Essa é a oração de S. Reimundo, mermo?) - É..é [muitas vozes].

- Vosmecês num sabe outra oração? (- Nós num sabe)... [muitas vozes].

- Uma oração mais forte que essa, vocês num têm?)- Tem não, tem não, essa é boa [muitas vozes]

- Pois deixe comigo, deixe comigo, eu vou rezar uma oração aqui, que se ele num nascer, ele num tá nem cum diabo de num nascer: "Sant Antoin pequenino, mansadô de burro brabo, fazei nascer esse menino, com mil e seiscentos diabo!"[choro de criança]. - Nasceu e é menino homem!

- E é macho! (- Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele!)

Entre os anos de 1900 – 1940:Pai Abílio (João Abílio de Sousa) era curandeiro e fazia “garrafadas de remédios” tanto para animais como para a população local; até pequenas cirurgias ele fazia (costurava com linha de algodão); Manoel Miguel de Sousa (pai de Anacleta, Edite Miguel, Adelina Diniz) (rezava em pessoas mordidas de cobras, dentre outras doenças); José Inácio de Sousa (pai de Raimundo Inácio); Américo Pereira Gomes; Rosimiro Faustino; Aristides Preto; dentre outros, foram os principais resadeiros dessa época;

Os “benzimentos” e rezas são, sem dúvida alguma, algumas das formas de cura mais antigas do mundo. O conjunto desses conhecimentos remonta aos curandeiros antigos, nos primórdios da humanidade, há pelo menos 30 mil anos. Os xamãs de todos os continentes usavam ervas, rezas e invocações para curar (GORZONI, 2005 ).

Entre 1920 – 1950: Joana Abílio Pegado(filha de Gervásio Pegado). Costumava rezar nas crianças e adultos que tinham sido mordidos por cobras; ferida de boca; cobreiro; vento caído; “Senhora Constança” (mãe de Joaquina Jacó), Tia Nênê (mãe de Sebastião Abílio); Antônia Abílio Diniz (Dona Tonhinha – esposa de Zequinha Abílio) costumava rezar para “mal olhado”, ferida de boca; Ana Lucas da Silva (Madiana); Maria Faustino (esposa de João Faustino); dentre outras, foram às principais rezadeiras dessa época (Figura 04);

Entre os anos de 1950 – 1960: Mãe Maria Montenegro era excelente rezadeira (benzendeira); Chica de Lôlô; Bela de Rozeno; Dona Dandô (Francisca Rodrigues) também era resadeira e fazia rede de tiar, lençóis, cochas - na sua residência ela vendia bolo e café;

Figura 04. Algumas das rezadeiras (benzedeiras) de Diamante - PB.

Os “benzimentos” são praticados por várias culturas, de formas o mais diferentes possível, e contam com o auxilio dos elementos da natureza e da religião. No entanto, todos visam às mesmas coisas: abençoar, curar e proteger os seres das forças negativas do universo. Na maioria das religiões, as benções são praticadas com o objetivo de pedir proteção e boas energias(GORZONI, 2005 ).

As principais plantas usadas pelas rezadeiras (ou rezadeiros), em Diamante, durante as rezas eram: Arruda; Pião Roxo; Muçambê; Mangerioba.

E como nos descreve Borba (2006)

Com o uso de pequeno galho de planta, principalmente de alecrim, arruda ou pinhão roxo, rezam orações específicas, para dirimir males e ansiedades das pessoas que as procuram. O ritual é completado por diversas cruzes, feitas sobre a cabeça e o corpo da pessoa, que se supõe acometida de olhado ou quebranto. [...] Existem pessoas que, não somente rezam mas igualmente, recomendam o uso de "meisinhas" e banhos de ervas, como auxiliares na cura. Algumas até preparam esses produtos e os ofertam aos clientes. (pág. 113).

A seguir são descritos alguns tipos de rituais e materiais utilizados durante as rezas :

Para ferida de boca, a Senhora Joana Abílio Pegado usava um "cordão de linha zero feita de algodão" e durante o ritual elas davam nós no cordão e após o final da reza amarava no pescoço do paciente e afirmavam que quando o cordão caia eles estavam curados;

O Senhor Pedro Ferreiro (mais conhecido como "Boca de Goiaba") era famoso por rezar para “espinhela caída" (ou peito aberto) e que o mesmo fazia questão de afirmar que a doença chamava-se de "As arcas Abertas" e sempre durante a reza usava uma toalha ou lençol para medir a distância entre os braços e na cintura ou ele também além de rezar solicitava da pessoa se dependurar num armador, subindo pelo menos 03 vezes;

A Senhora Ana Luca da Silva rezava para a criança que tinha "vento caído" (diarreia forte e a moleira afundava) da seguinte maneira: durante o ritual da reza ela dependurava a criança de ponta cabeça (segurando pelos pés) em frente de uma porta e elevava a criança por 03 vezes; ela também sugeria que a mãe quando chegasse em casa, já que não sabia da reza, passasse a criança entre os cordões do punho da rede por 03 vezes;

A Senhora Chica de Lôlô rezava para as pessoas que tinha dor de cabeça (de resta de sol ou de lua): ela utilizava uma garrafa branca com água, colocava uma toalha branca na cabeça da pessoa e virava a garrafa destampada sobre a toalha sem derramar um pingo d´água e após toda a reza a pessoa se curava;

As rezadeiras (ou benzendeiros) usavam várias plantas e rituais para cada doença específica. E como nos descreve Araújo e Araújo (2010  )

Usava uma folha de Arruda para curar: "ispinhela caída, dor nos quarto, menino de moleira mole, tosse de cachorro, estalicido do pulmão, íngua do suvaco e da virilha, caganeira de biqueira e, principalmente, quebrante (mau olhado) em menino de mês". Normalmente o quebrante era advindo dos olhos gordos de vizinha invejosa. [...] Para um Passamento ou

Biloura, por exemplo, bastava um punhado de sal na boca. Pro moleque volta a respirar, era cheirar álcool ou querosene, para, em seguida, levar uns gritos da mãe para nunca mais “ fazer susto”. [...] “Dordoia” se curava com água dormida no sereno ou leite de peito de mulher parida de quinze dias. O mesmo remédio também dava fim a “impinge, pano branco e pano preto". Já a Dor de Viado” era curada apenas colocando na virilha uma folha de Pinhão Roxo. (p. 95, grigo nosso).

Fonte: Material retirado do Livro Diamante Bruto 2ª Edição, 2016.

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