Menu
Saúde

Câncer de pênis por má higiene matou cinco homens em 2019

Conversar sobre as "partes baixas" é certeza de faces ruborizadas, risos nervosos e fugas pela tangente

Da Redação do Diamante Online

07/10/2019 às 13:02 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

Assim como a higiene do nosso corpo, com o banho diário, dar atenção aos órgãos sexuais também é uma forma de cuidar da saúde. Infelizmente, para muitos homens e muitas mulheres, o assunto ainda é visto como tabu. Conversar sobre as “partes baixas” é certeza de faces ruborizadas, risos nervosos e fugas pela tangente.

Há os que, além de não tocarem – nem no assunto em nem no local – sequer têm coragem de tirar dúvidas com o médico e – pior ainda – não fazem a higiene corretamente. Por conta disso, correm o risco de desenvolver doenças, algumas com sequelas graves e que podem levar à morte.

A doença inflamatória pélvica, transmitida pelas bactérias Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, é uma delas. O mal pode levar à esterilidade e, se não tiver tratamento precoce, provoca sepse e óbito. De 2009 a 2018, foram 16 mortes na Paraíba associadas a essa doença. Até o fim de setembro, duas mortes.

Portanto, não se trata apenas de uma questão de banho básico, de usar um desodorante íntimo para camuflar um odor mais forte, usar um hidratante na pele ou uma depilação, mas fazer a limpeza correta, lavar e secar bem e procurar um médico sempre que surgirem sinais diferentes do normal como coceira, corrimento, dor. Só ele pode diagnosticar o que há de errado e recomendar os produtos ou medicações indicados para cada situação, evitando o aparecimento – ou a piora – de patologias.

E tem outros pormenores nessa história. Pelas diferenças físicas, homens e mulheres precisam de métodos específicos nesse processo, tanto no que diz respeito à higiene quanto à saúde. Essas atitudes fazem parte da prevenção de doenças e incômodos futuros na ‘área de lazer’. Enquanto elas buscam o ginecologista para complementar a sequência de cuidados, eles vão – ou deveriam ir – ao urologista.

Ginecologista explica tudo
Os cuidados com as partes íntimas têm que ser diários, mas nos dias mais quentes, a higiene íntima feminina deve ser realizada pelo menos três vezes ao dia com utilização dos dedos para lavar os órgãos genitais externos – a vulva – e, de preferência, com sabonete líquido.

O produto em barra pode modificar o PH – que é a medida do nível da acidez da região – facilitando a proliferação de bactérias, fungos, entre outros invasores. A explicação é da ginecologista Laura Maia, membro da Sociedade Paraibana de Ginecologia.

Ela ressaltou que é desnecessária a utilização de duchas ou outros meios para fazer a higiene íntima. Esse tipo de acessório, conforme a especialista, pode provocar lesões na pele.

Passa o dia inteiro fora de casa?
Dê preferência às saias e vestidos, pois são roupas que permitem uma ventilação adequada. Outra orientação é trocar as roupas íntimas ao menos uma vez ao dia e, quando possível, dormir sem calcinha ou com roupas largas para aumentar a ventilação dos genitais.

Banhos
O banho deve ser com água corrente para favorecer a remoção mecânica das secreções. Concluída esta etapa, é preciso secar cuidadosamente as áreas lavadas com toalhas de algodão secas e limpas, que não agridam a região.

“Os banhos de assento só são indicados se houver recomendação médica, onde se prioriza o efeito medicamentoso de algumas substâncias prescritas ou onde quer se aproveitar os efeitos físicos promovido pela temperatura da água”, ressaltou Laura Maia. Para evitar o ressecamento local, o tempo de higiene genital não deve ser superior a dois ou três minutos.

Depilação
Toda mulher sabe que a depilação íntima promove uma sensação de limpeza e conforto da área genitoanal, e ela está liberada pelos ginecologistas, mas sem excessos. A frequência deve ser a menor possível, segundo a ginecologista, contudo a extensão da área depilada dependerá da individualidade de cada mulher. “É preciso lembrar que o excesso de pelos pode contribuir para o acúmulo de resíduos e secreções”, destacou.

Após a depilação, o uso de substâncias calmantes – como água boricada e soluções de camomila – pode ajudar. “As peles ressecadas deverão ser hidratadas assim como se faz nas demais áreas do corpo”, lembrou. Para isso, deve ser usado um hidratante não oleoso, abrangendo apenas as regiões de pele, sem englobar a mucosa.

Higiene íntima não é higiene interna
Cada fase da vida deve ser respeitada, mas os cuidados de higiene são semelhantes em mulheres adultas e crianças. Nas adultas, um dos alertas da ginecologista Laura Maia é não confundir a higiene íntima com a ‘higiene interna’. “Esta última, é desnecessária e pode produzir mudança da flora normal da vagina”, frisou.

Ainda de acordo com a médica, a presença de bactérias do grupo Lactobaccilus sp tem fundamental importância em manter o PH ácido. A associação do grupo Lactobaccilus sp com a higiene adequada auxilia na proteção da região.

Nas crianças, a higiene deve ser feita da mesma maneira da adulta, lembrando que o uso de fraldas pode provocar dermatites pelo contato com a urina e as fezes. As mamães devem ficar atentas: limpeza sempre da frente para trás. Nos adolescentes, um dos problemas comuns é a foliculite – tipo espinha – por conta da oleosidade da pele.

Período menstrual e absorventes
No período menstrual, o sangue pode funcionar como meio de cultura para crescimento de bactérias. Por isso, a higiene deve ser intensificada. O ideal é que a troca dos absorventes seja feita várias vezes, sem ultrapassar o período de quatro horas. Além disso, o conselho é lavar a região íntima com maior frequência, principalmente se o fluxo for intenso.

Nos casos em que há muita transpiração, perda de urina ou se houver secreção vaginal excessiva, o uso de absorventes externos sem película plástica – os famosos protetores diários – pode ser uma boa indicação para diminuir a umidade local, segundo Laura Maia. O espaço entre uma troca e outra também não deve ultrapassar quatro horas.

Quem usa absorventes internos deve evitar o exagero. “Eles devem ser utilizados esporadicamente. Por exemplo, para práticas esportivas, e principalmente, nas aquáticas”, recomendou.

E depois do ‘número dois’? Limpar ou lavar?
A higiene após a evacuação também é uma forma de prevenir problemas e a recomendação da ginecologista Laura Maia é lavar a região, o que deve sempre ser feito de frente para trás – dica que também vale para o uso do papel higiênico. A medida ajuda a evitar a contaminação das bactérias provenientes da região anal.

Quando a rotina diária não permite o asseio adequado, podem ser utilizados lenços umedecidos na limpeza. Ela ressaltou, porém, que os perfumados devem ser evitados, pois podem irritar a pele.

Camisinha sempre
O uso do preservativo tem importância tanto na prevenção das infecções sexualmente transmissíveis quanto para evitar uma gravidez indesejada.

Na hora do amasso
Uma recomendação importante da ginecologista Laura Maia para evitar o aparecimento de doenças é procurar urinar antes e depois do ato sexual.

Algumas doenças que podem ser prevenidas
Escabiose
Herpes genital
Tricomoníase
HIV
Sífilis
Hepatite C
Monilíase.

Sinais de que algo não vai bem
Mau cheiro
Vermelhidão
Prurido (coceira)
Corrimento
Dor
Bolhas
Feridas (úlceras)
79
É o número de óbitos, na Paraíba, por câncer de pênis no período de 2009 a 2018. Em 2019, até o mês de setembro, foram 5 óbitos. A doença, conforme o Ministério da Saúde, está associada à má higiene íntima.

E os meninos?
Os meninos também precisam seguir algumas regrinhas para cuidar da área genital, lavando bem a região com água e sabão durante o banho, enxugando bem depois. Ao urinar, a orientação do urologista George Guedes Pereira, é manter retraída a pele do prepúcio para evitar que as últimas gotas de urina fiquem acumuladas na glande, deixando-a úmida. Isso pode causar mau odor ou proliferação de fungos.

“As micoses são as infecções mais frequentes na região da glande e prepúcio decorrentes de má higiene”, disse. Diabéticos têm maior predisposição ao aparecimento deste tipo de infecção. O médico explicou que, às vezes, secreções podem se acumular sob o prepúcio, que é a pele da extremidade do pênis que recobre a glande. Se esta área não estiver bem limpa, estas secreções acumuladas se transformam em esmegma, uma substância espessa e mal cheirosa, composta de secreções oleosas da pele, juntamente com células mortas da pele e bactérias.

O problema é mais comum em homens com fimose, mas pode ocorrer em qualquer pessoa com prepúcio, se este não é regularmente recolhido para limpar a glande. “A maioria dos especialistas acredita que o esmegma em si, provavelmente não causa câncer de pênis, mas pode irritar e inflamá-lo, o que pode aumentar o risco da doença”, alertou.

Roupas íntimas
As roupas íntimas de algodão e mais folgadas são as mais recomendáveis aos homens. As apertadas comprometem o funcionamento testicular e o atrito de sungas ou cuecas lavadas ou secas de forma inadequada ocasionam abrasões na virilha com inoculação de fungos. Daí, pode surgir um tipo de micose mais frequente no verão em que surge uma mancha escura ou vermelha na região.

Quando procurar um especialista
Dor na região genital, durante ou após a micção, relações sexuais ou o banho;
Aparecimento de manchas ou verrugas na pele da região genital;
Aumento do volume associada ou não a dor nos testículos.
Depilação e foliculite
A depilação genital pode predispor ao aparecimento de inflamações da raiz do pelo, a foliculite, que inicialmente pode se assemelhar a uma ‘espinha’. Para evitar que isso aconteça, o urologista George Guedes Pereira recomenda que se preserve um comprimento de pelo suficiente para que ele se dobre – e não espete sua raiz – ao ser pressionado contra a pele.

Prevenindo para não remediar
Diante da iniciação sexual cada vez mais precoce dos jovens e do aumento crescente na incidência das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) na população em geral, o especialista George Guedes Pereira ressalta que é fundamental o uso de preservativo em todas as relações.

“É de fundamental importância a obrigatoriedade do uso de preservativos durante o ato sexual. O desejo, a oportunidade, o desconhecimento, o excesso de autoconfiança, levam ao negligenciamento de sua utilização. Eles precisam ser conscientizados dos riscos e implicações inerentes que persistirão por meses após esse prazer fugaz, podendo perdurar até pelo resto de suas vidas”, alertou.

Para o urologista, a questão dos hábitos de higiene e cuidados com a saúde são assuntos que precisam ser abordados abertamente nas escolas por professores ou agentes de saúde capacitados. “Os jovens estudantes são igualmente semeadores de informações em seus ambientes familiares e grupos sociais”, lembrou.

E então, o que é fimose?
Fimose é a condição médica em que o prepúcio encontra-se em excesso. Nem sempre requer tratamento cirúrgico, conforme o urologista George Guedes Pereira. “A cirurgia pode ser indicada naqueles que apresentem dificuldade em exteriorizar a glande com o pênis em estado de ereção ou mesmo flácido, causando desconforto às relações sexuais, prejudicando o uso de preservativos ou até a higiene, nos portadores de balanopostite de repetição, que é a inflamação da glande e prepúcio mais comumente por fungos”, esclareceu.

No entanto, quem passou pela correção cirúrgica tem menos predisposição a desenvolver alguns tipos de DSTs ou até mesmo câncer de pênis. “O freio meatal, uma prega que liga o prepúcio ao meato da uretra, exerce a função fisiológica de ocluir a uretra durante a penetração do pênis, impedindo a entrada de secreções que possam contaminar. Deve-se, portanto preservá-lo o suficiente para que exerça esse papel”, completou.

 

Portal correio

Tópicos
Anúncio full