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Saúde

Centista baiano trabalha no desenvolvimento de tratamentos para câncer de próstata

O químico José Carlos Santos estudou em escolas e universidade públicas

Da Redação do Diamante Online

03/11/2020 às 12:06 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

No mês do "Novembro Azul", campanha de conscientização da saúde do homem, com ênfase no diagnóstico precoce do câncer de próstata, o G1 conta a história de um cientista baiano vem trabalhando na pesquisa e desenvolvimento de substâncias para o tratamento do câncer de próstata, na Alemanha.

O câncer de próstata acomete cerca de 1,2 milhão de homens por ano no mundo. No Brasil, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para 2020 é que haja mais de 65 mil novos casos da doença, atingindo cerca de 29% dos homens do país. Segundo o Inca, é o tipo de tumor mais comum em pessoas do sexo masculino no Brasil, seguido de câncer de cólon e reto (20.540 diagnósticos) e traqueia, brônquio e pulmão (17.760).

Na Bahia, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia no estado (SBU-BA), são previstos 6.130 novos casos este ano, 1.090 deles só em Salvador.

Nascido em Jaguaquara, no sudoeste baiano, José Carlos dos Santos, 40 anos, mora em Heildeberg há cerca de 13 anos. O objetivo da pesquisa dele é tratar a doença sem gerar tantos efeitos colaterais ao paciente.

Licenciado em química pela Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (Uesb), o cientista tem dois mestrados – em Química Medicinal, pela Universidade de Regensburg, na Alemanha, e em Química Radiofamacêutica e Terapêutica, pela Universidade Clássica de Lisboa, Portugal. José Carlos também é doutor pela Universidade de Heidelberg, também na Alemanha.


O pesquisador José Carlos se apaixonou pelo mundo científico e pelas possibilidades de novas descobertas na área de saúde, com a chance de proporcionar melhorias na vida de muitas pessoas. F

“Foi uma área desafiadora. Acabei mudando de percurso, entrando na área de química farmacêutica, biomedicina, talvez. Sempre achei muito desafiadora, e eu gosto de desafios, me fascinam muito”, disse.

O sofrimento de pessoas que enfrentam o câncer também influenciou Carlos na escolha da área de pesquisa. “Quem não teve nenhum amigo, familiar que não teve câncer? O fato de ter alguns amigos e familiares que morreram de câncer fez com que eu me interessasse pela área. Hoje é uma doença muito comum, é uma doença do século moderno. É um processo também de envelhecimento, de seleção natural”, afirmou.

Foi no mestrado na Alemanha que Carlos começou a trabalhar na área de oncologia, como cientista. Hoje, a pesquisa dele é desenvolvida no Centro Alemão de Pesquisa do Câncer, um dos institutos mais importantes da Europa.

“Eu percebia que podia colaborar muito na pesquisa. Eu sempre tive o espírito investigador, sou detalhista e achei que esse universo científico me completava. É um trabalho muito nobre. Na área de oncologia, que a gente não tem resposta para muita coisa, eu achei que podia dar o meu conhecimento para fazer alguma coisa”, disse.


Carlos trabalha atualmente no desenvolvimento de novas radioterapias que tragam resultados efetivos, mas sem efeitos colaterais tão agressivos.

"Elas são radioterapias com um novo conceito, com conceito de teranóstico, tera significa terapia e nóstico diagnóstico. É uma radioterapia com função dupla, que ajuda do diagnóstico e tratamento, tem uma contribuição gigantesca para a medicina nuclear", detalha.
A diferença, ele explica, impacta diretamente na qualidade de vida e longevidade do paciente.

“Nós temos uma deficiência muito grande nessa área porque as radioterapias não são específicas e causam efeitos colaterais. Nesse caso, da que eu desenvolvi, como ela é específica para o alvo, não tem tantos efeitos colaterais e oferece para o paciente uma qualidade de vida, uma expectativa de vida maior, mais dias de vida”.

O cientista detalha a pesquisa, que durou 5 anos até chegar na fase de testes em pacientes. A principal diferença, segundo Carlos, é que alguns tratamentos usados hoje nas radioterapias e quimioterapias, como não têm um alvo específico, acabam agredindo células saudáveis dos pacientes, deixando-os muito debilitados durante o tratamento, principalmente se for a longo prazo.

“A molécula alvo foi PSMA, que é um biomarcador do câncer de próstata. Quanto maior o número de PSMA nas células, maior a agressividade do tumor. A substância que eu desenvolvi se liga diretamente a essa proteína. Essas substâncias diretamente para o alvo aumentam a expectativa e qualidade de vida do paciente”, completa.
As substâncias desenvolvidas pelo pesquisador baiano receberam nomes científicos que levam as iniciais do nome dele CA (Carlos). São elas:

CA03
CA012
CA028
Todas já foram testadas, patenteadas e compradas por uma indústria alemã, mas ainda não estão disponíveis nos centros de tratamento.

“Foi uma substância chegou a uma fase bem desenvolvida e foi testada em pacientes com excelentes resultados. Em breve vai estar no mercado para todo mundo”, explicou Carlos.

Normalmente, o paciente com câncer de próstata não apresenta sintomas no início da doença. Mas a visita regular ao urologista pode ajudar em um diagnóstico mais rápido e, consequentemente, no tratamento mais eficaz. Na maioria das vezes, a suspeita da doença acontece quando são encontradas alterações na próstata durante o exame clínico (toque retal) e ou quando há altos níveis do antígeno prostático específico (PSA) nos exames de sangue do paciente.

De acordo com o médico Igor Morbeck, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e Coordenador do Comitê de Tumores Geniturinários, o tratamento do câncer de próstata já evoluiu bastante em todo o mundo, mas há novas terapias que podem melhorar as respostas à doença.

“Nós temos remédios melhores, do ponto de vista da hormonioterapia, na doença avançada, nós temos remédios que agem melhor no microambiente ósseo. Nós temos quimioterapias melhores, e nós temos, hoje, a possibilidade de fazer uma análise genética, avaliar o perfil molecular dos tumores, as células tumorais, com o objetivo de pesquisar genes alterados, é o caso dos genes de reparo de DNA e nós já temos também drogas específicas para isso”, detalhou.

O doutor Morbeck explicou que, hoje, no Brasil, a grande novidade é o tratamento chamado teranóstico, que é quando se une substâncias e imagens.

“Aí você consegue alta precisão de resposta. Estou falando, principalmente, de drogas radiotivas, como lutécio, actínio, que estão carreadas a um antígeno de membrana chamado PSMA. Quando a gente tem essa combinação, a gente consegue uma alta taxa de resposta, que exatamente o que o pesquisador brasileiro [José Carlos] está estudando em Heildeberg, na Alemanha, porque lá é realmente um centro pioneiro em relação ao uso do actínio em câncer de próstata".

O médico da Sociedade Brasileira de Oncologia explicou que, no Brasil, ainda não há tratamentos com o actínio, mas com uma molécula parecida.

"A gente não tem o actínio, mas a gente tem uma molécula semelhante, que é o lutécio, e o tratamento com lutécio já é uma realidade no nosso meio. Embora são pouquíssimos centros que fazem esse tratamento, a gente sabe que pra aqueles pacientes que já falharam na doença metastática, várias linhas de tratamento, a hormonioterapia, a quimioterapia, entre outros, acaba sendo uma arma extremamente poderosa e eficiente nesse cenário, o grande problema é o custo", disse.

Morbeck detalha que, para usar esse tipo de tratamento, hoje, no Brasil, o paciente precisa arcar com tudo. "É um custo elevado, os planos de saúde não cobrem, tampouco tem no SUS, o que torna realmente limitado para poucos casos. Mas essa é uma área de pesquisa em expansão, a gente sabe que tem muita coisa por vir e que, certamente, essa combinação de agente radioativo com imagem, por exemplo, com PSMA, vai levar a uma revolução muito grande no tratamento da doença, em breve”, disse.

G1.

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