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Vale do Piancó

Para onde foi nossa cultura? É no novo artigo do professor Edson Leite, de Diamante (PB); saiba mais

Professor diamantense conta um pouco sobre as tradições culturais de sua terra e pede a revitalização

Da Redação do Diamante Online

16/11/2016 às 03:04 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

E inicia-se a aurora de um novo tempo...

Há poucos dias passamos por um processo de eleição. Neste contexto, depositamos toda nossa esperança por mudanças naquilo que está errado, melhoras no que estava correto e principalmente, expectativas de dias melhores.

Nesta mudança de cenário e sob à luz deste renascimento em termos de esperança, quero aqui trazer algumas reflexões sobre a nossa cultura. A cultura diamantense!

Isso mesmo: a cultura diamantense.

Talvez tenhamos nos acostumado a se ver como pequenos e até mesmo insignificantes neste sentido. Mas a verdade, do meu ponto de vista, é que temos sim, muita cultura a ser exibida e principalmente, preservada.

Verdade seja dita, já há algum tempo parece que nós e principalmente nossos governantes, veem fazendo questão de enterrar essa cultura.

Sou de uma época em que estar em Diamante, num primeiro momento trazia a sensação de estar num lugar especial. Suas praças, suas luzes, sua gente e seu jeito de ser, era algo diferente. Um diferente bom, que junto vinha o gosto de querer ficar ali por mais tempo.

O Dia 20
Quando criança, era mágico para mim, o dia 20 de cada mês. Talvez poucos saibam, mas os mais velhos assim como eu, com certeza lembram-se de como era o "Dia de PadimCiço".

Íamos para escola, afoitos para que o dia terminasse e enfim pudéssemos à noite ir para à boate, que nesta época, na verdade era o Clube 7 de Setembro. Durante todo o dia, quem podia, se preparava como podia para comparecer bonito ao baile. A banda de pífaros fez parte da minha infância. Os moleques mais danados me diziam que chupar uma laranja diante do flautista seria uma experiência interessante. Na minha ingenuidade, nem fazia ideia de que o resultado deste ato seria uma "flautada" na minha cabeça.

À noite, antes do baile havia a procissão. A tábuas de pirulitos de açúcar desfilavam entre os transeuntes. Muitas velas... E por aí vai.
Este é o cenário que se via nos dias 20 de cada mês, em nossa cidade.

Dia 31 de Maio e 7 de setembro
Duas festas inesquecíveis para qualquer um que tenha vivido.

Às 5h da manhã tocava-se a alvorada na difusora da igreja. Pela manhã sempre havia um torneio de futebol que agitava toda a cidade. Pessoas amontoadas dentro do campo, em cima das paredes. Garotos vendendo picolés e "confeitos".

À tarde, no 7 de setembro, havia o desfile mais lindo de todo vale do Piancó. Ao som de uma banda marcial (que era nossa) surgiam diante de nossos olhos várias alegorias muito bem produzidas, lindas líderes de pelotões com seus "bambolês" e coreografias super produzidas. Aqui e acolá, haviam umas paradas para que algumas gincanas fossem executadas. Fogos e mais fogos, de diversas variedades iam sendo lançados ao céu durante todo o evento.

A cidade se via cheia nestes dias.

São João
É bem verdade que esta sempre foi uma festa tradicional na cidade de Boa Ventura. Apesar disto, desde 1994, passamos a ter uma festa de São João extremamente bela e reconhecida em todo o vale. Ironicamente, foi destruída por quem mais deveria ter dado valor (não quero entrar nesse mérito). Mas, fato é que quando tentamos, fomos lá e fizemos um São João para ninguém botar defeito. Barracas, milho verde, concurso de quadrilhas, enfeites por toda a cidade, filhos naturais da cidade que moravam fora sorrindo à toa e fazendo todo o esforço para se fazerem presentes na cidade nesta época.

Apesar do texto ser sobre uma cultura que aparentemente foi deixada para trás, aproveito a oportunidade para parabenizar o amigo Zé Boré, que como um guerreiro recriou o nosso São João mostrando mais uma vez que, apesar de ser irrelevante para as autoridades à época, quando o diamantense quer, ele faz e acontece.

Peço aos novos governantes, que entram no poder a partir de 2017, que mesmo vindo a ter novamente em nossa cidade aquelas festas enormes com bandas de renome, que o São João do Beco do Brogodó seja preservado e que um dia do São João diamantese seja exclusivo para esta festa.

Fim de Ano
Finalmente, o Natal e Ano Novo. Também nunca tivemos tradição nestes dias. Mas, como o que está em discussão é a nossa cultura, vale lembrar do famoso "Amigo Secreto" que era realizado pela família de Seu Crisanto, acho que Dé ou Corrinha (me ajudem) e que movimentava toda a cidade. Os segredos de cada um querendo evitar que fosse descoberto quem era seu amigo e a dificuldade de se descobrir um presente adequando sem entregar o segredo. Era lega. Nunca participei mas curtia a festa mesmo assim.

Bom, todas essas recordações e mim provam que sempre fomos detentores de uma vasta cultura. Embora tenha falado exclusivamente de festas que ocorriam em nossa cidade, espero ter ficado claro a cultura que havia em nós em relação a estas festas. Desde a banda de pífanos, o pirulito de açúcar, a alvorada e o "Frei Damião" tocado sempre ao meio dia, todos os dias (esqueci de mencionar), a banda marcial e a banda filarmônica, o desfile de 7 de setembro, do Grêmio, Botafogo e Bragantino que sempre causaram grande acirramento entre seus torcedores. Tudo isso faz parte de nós e não podemos deixar esquecer.

Imploro, com toda a veemência que meu pedido possa ter, aos nossos governantes eleitos, que atuem fortemente para reaver nossa cultura. Muito pode ser feito e, o que a mim me parece mais importante, sendo necessário muito pouco esforço financeiro e muito mais esforço ideológico. Traduzindo: basta ter pessoas que queiram, envolvidas no processo.

 

Diamante Online

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