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Educação

Covid: Educação tem retrocesso de 8 a 10 anos na América Latina

17 milhões de alunos do ensino médio e de universidade se verão forçados a abandonar os estudos.

Da Redação do Diamante Online

27/04/2021 às 14:11 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

A grave crise socioeconômica provocada pela pandemia de covid-19 vai representar um retrocesso educativo de oito a dez anos na América Latina, onde cerca de 17 milhões de alunos dos últimos anos do ensino médio e os primeiros da universidade se verão forçados a abandonar os estudos, segundo estimativas da OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos).

São filhos de famílias de baixa renda que ficarão mais pobres, não poderão pagar as mensalidades e, por isso, voltarão para casa para "ajudar" na composição da renda familiar trabalhando, principalmente mulheres de regiões suburbanas e rurais, advertiu o secretário-geral da OEI para Educação, Ciência e Cultura, Mariano Jabonero, em entrevista à Agência Efe.

Com isso, não vão voltar aos centros de ensino secundário ou universitário aqueles que mais precisam dessas instituições, que representam "o único caminho, uma oportunidade de promoção social e trabalhista", conforme ressaltou Jabonero.

MAIS POBRES, MENOS INSTRUÍDOS.
A pandemia do novo coronavírus forçou a interrupção temporária de atividades educacionais, deixando 180 milhões de estudantes latino-americanos confinados e com perdas de aprendizado de 25%, de acordo com uma análise preliminar da OEI.

Isso significa "um impacto na perda de competitividade e produtividade", alertou Jabonero, além de destacar que as crianças e os jovens podem se tornar mais pobres no futuro.

As perdas se devem especialmente ao fato de que a educação à distância não tem sido difundida em ampla escala. Quase 50% dos lares da região latino-americana não possuem conexão à internet, e essa grande lacuna digital prejudica principalmente aqueles que mais precisam da educação, os mais pobres.

Jabonero frisou que "superar esta divisão digital, encurtando-a ou eliminando-a" para evitar uma diferença "educacional e social muito forte" é imprescindível.

DIGITALIZAÇÃO E MODELO EDUCACIONAL DIFERENTE.
Sobre como reverter a situação, o secretário geral da OEI afirmou que é preciso "confiar na tecnologia e na digitalização" por meio de um modelo educacional diferente, sem voltar ao anterior à pandemia, "ineficiente e de baixa qualidade, com grande desigualdade social".

A América Latina precisa de uma escola "mais inclusiva, mais equitativa, com maior qualidade e para todos, e que todos tenham acesso à educação à distância e presencial, essencial para a maturidade educacional e a interação social", disse.

Nos estudos universitários, Jabonero observa um descompasso entre uma formação desatualizada e as exigências profissionais das empresas, o que resulta em baixa competitividade e produtividade e empregos pouco qualificados e mal remunerados.

Por outro lado, ele ressaltou a importância de que haja 30 milhões de estudantes universitários na região, sendo que 70% são os primeiros com nível superior em suas famílias, um sinal de confiança na educação para o progresso socioeconômico.

Segundo dados do Banco Mundial (BM) em 2018, a média regional de investimento público em educação é de 5,2% do PIB, mas até agora esse volume diz mais a respeito de escolarização e recrutamento de professores do que de qualidade, de acordo com Jabonero.

Para não ter que gastar mais, e sim melhor, são necessárias melhorias "reais" nas habilidades básicas, digitais, comunicativas, linguísticas e socioemocionais, professores melhor treinados, gestão mais qualificada e avaliada. "E um forte compromisso com a primeira infância, que será (...) o que produzirá o maior retorno social mais tarde", explicou o secretário-geral.

MAIS COMPROMISSO INTERNACIONAL.
Jabonero pediu uma melhor cooperação internacional em educação na América Latina, envolvendo bancos multilaterais e o Fundo Monetário Internacional não para dificultar as coisas, mas "injetar dinheiro complementar".

Ele elogiou como "muito proveitosa" a relação da OEI com a União Europeia, mas fez uma ressalva. "Eu queria que a presença da América Latina na agenda da UE fosse mais relevante do que é agora", afirmou.

Sobre a negligência educacional na crise migratória, ele destacou "o esforço especial" e o "generoso" acolhimento de venezuelanos na Colômbia e no Equador e que a gravidade da situação é "mais acentuada" entre os centro-americanos que viajam para os EUA em condições "sub-humanas".

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