Morador de rua morre eletrocutado ao tocar em barraca de lanches: "Ele foi pedir comida", diz amigo

Um morador de rua de 46 anos morreu eletrocutado no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, depois de se encostar num trailer de lanches na hora do almoço. Segundo testemunhas, Sérgio José da Silva, conhecido como “Pessoa”, caminhava pela calçada com um amigo quando escorregou no meio-fio e tocou na barraca, sendo atingido pela descarga elétrica (veja vídeo acima).

O acidente aconteceu na tarde desta sexta-feira (1º), na Rua da Conceição. O autônomo Luciano José da Silva, que estava com Sérgio, contou à TV Globo que o morador de rua tinha se aproximado do trailer para pedir comida. Luciano contou que foi tentar salvar o amigo, mas a vítima o afastou para evitar que ele também encostasse no trailer e levasse choque.

“Ele foi pedir um pouco de comida à mulher que estava comendo açaí aqui. Por azar dele, aconteceu essa fatalidade. [...] Ele me jogou do lado [e disse] assim: ‘Vá para lá, deixe eu só’. Quando eu pedi para desligarem a tomada, ele já estava todo 'tronxo'”, disse Luciano.
Cristiano José da Silva, irmão mais velho da vítima, contou que Sérgio vivia em situação de rua por escolha própria. Os dois são naturais de Itaquitinga, na Mata Norte, e foram abandonados pela mãe na infância, crescendo em famílias diferentes.

“Quando ele precisava, ele ligava. Quando ia para algum abrigo, alguém sempre me ligava dizendo que ele estava lá. [...] Eu me senti no dever de vir, mesmo que a gente não tivesse convivência. [...] Não é porque ele era uma pessoa de rua que não vai ter justiça, tem que ter alguma coisa”, disse Cristiano.

De acordo com testemunhas, a rua estava movimentada e muitas pessoas presenciaram o acidente. Uma delas, Bete Souza, que trabalha em uma ótica na área, disse que a vítima se encostou no trailer após escorregar no meio-fio.

“Quando ele caiu, já ficou agarrado no trailer. O amigo dele foi tentar segurar, ele ainda falou para o amigo sair de perto. Eu não sabia que era choque, até gritei para os amigos da gente para ajudar, porque ele é daqui da comunidade. Quando a gente gritou para desligar a tomada, o corpo dele caiu na hora. O pessoal ainda tentou fazer massagem cardíaca, mas não teve mais jeito”, contou.

O perito criminal Vinícius Nogueira informou que a equipe foi acionada para analisar o local onde Pessoa foi encontrado, já que havia suspeita de morte por choque elétrico. Segundo ele, a causa da morte só será confirmada após a perícia no corpo da vítima.

“Geralmente, casos que correm por energia elétrica de baixa tensão, às vezes nem deixam marcas visíveis. Então o [exame] tanatoscópico, como é mais apurado no cadáver, vai dar o indício de que tenha acontecido, ou não, a eletroplessão, que é a morte por choque elétrico”, explicou.

O perito também informou que o trailer ficará sob responsabilidade da Polícia Civil para que, caso seja necessário, novas avaliações sejam realizadas no equipamento.

“Inicialmente, o trailer fica sob responsabilidade da delegacia. O proprietário já foi orientado a fechar e levar para o estacionamento. Se for necessário, a gente faz uma nova perícia nele”, afirmou Vinícius Nogueira.

Outros casos de choque no local

A energia do trailer vinha de uma extensão ligada a um prédio e era compartilhada com outras barracas da rua. Duas funcionárias da banca de lanches estavam no local, mas não quiseram dar entrevista. Clientes afirmaram que já haviam levado choques ao encostar no trailer antes do acidente.

“Semana passada, eu vim comprar guaraná do Amazonas aqui. Quando eu fui fazer o pix, que eu encostei para escanear a chave, eu tomei o choque e avisei para ela. Só ficou: ‘sério, tu tomou um choque?’. Foi bem quando eu encostei no ferro, eu senti a pressão”, relatou Bianca Martins Augusto da Silva.

A vendedora Isabel Maria disse que chegou a ser arremessada também enquanto realizava o pagamento.

“Quando eu vim, estava chovendo, mais ou menos há uns 15 dias. Eu fui fazer o pagamento, assim que eu encostei minha mão, fui arremessada para trás com o choque que levei. Eu tinha falado pra ela: ‘Vai esperar acontecer alguma coisa, como aconteceu com Pessoa? Ele veio a óbito pra você resolver alguma coisa’. Foi na hora que ela desligou a energia, que é pra não ter provas”, disse a vendedora Isabel Maria dos Santos.