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Prefeito é acusado de violência política de gênero e racismo após expulsar professora que usou o pronome "todes" durante discurso
Entidades ligadas à saúde, aos direitos das mulheres e das pessoas negras emitiram notas de repúdio à atitude do político.
Por Redação
02/08/2025 às 14:09 | Atualizado em 02/08/2025 às 14:13
Prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL-MT) foi acusado de violência política de gênero e racismo contra uma professora que usou o pronome neutro “todes” durante discurso na 15ª Conferência Municipal de Saúde.
Brunini interrompeu a fala de Maria Inês da Silva Barbosa, mestre em Serviço Social, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e docente aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que acabou se retirando do evento após discutir com o prefeito.
“Durante a minha gestão, não vou aceitar a manifestação de pronome neutro, não vou aceitar doutrinação ideológica. Nós vamos fazer a discussão da saúde de Cuiabá conforme as nossas regras. Se a senhora não se sentir à vontade para conduzir uma apresentação que discuta a saúde do município de Cuiabá sem doutrinação ideológica e sem manifestação de pronome neutro, eu vou suspender a apresentação”, disse Brunini, que exerceu mandato de deputado federal até 2024.
A professora respondeu: “Eu só tenho a dizer ao senhor, com todo respeito à sua forma de pensar, que eu tenho uma forma de pensar distinta. Quando eu falo de equidade, eu tenho que considerar todos, todas e todes. Eu estou falando do acesso universal. O acesso universal igualitário é para todos, todas e todes. O senhor não se preocupe, porque o senhor não vai precisar me retirar da sala, porque eu mesma me retiro”.
Repercussão
Entidades ligadas à saúde, aos direitos das mulheres e das pessoas negras emitiram notas de repúdio à atitude de Brunini. Elas acusam o prefeito de praticar violência política de gênero de forma “antidemocrática”, “autoritária”, “racista” e “misógina”.
“Nós não vamos aceitar a tentativa de censura e apagamento das identidades e, principalmente, o silenciamento de uma mulher negra, especialmente como a companheira Maria Inês, que teve um papel estratégico na formulação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, afirmou a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, composta por 35 organizações filiadas.
“Este episódio trata-se de uma ação racista, misógina e autoritária, que se soma a outros posicionamentos perigosos e desinformativos do prefeito de Cuiabá”, disse o Odara – Instituto da Mulher Negra, organização criada na Bahia.
A prefeitura de Cuiabá emitiu nota sobre o incidente alegando que, por determinação de Brunini, não é permitido o uso de linguagem neutra em eventos e espaços patrocinados pelo Executivo Municipal. A justificativa apresentada foi o “compromisso com a preservação da norma culta da língua portuguesa e com a neutralidade ideológica das ações públicas”.
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