Brasil
Ex-seminarista gay relata festas com padres: "Bebíamos e fazíamos sexo"
Ao longo de uma década, Brendo passou por quatro seminários, entre Brasil e Europa.
Por Redação
27/05/2025 às 13:29 | Atualizado em 27/05/2025 às 13:32
Brendo Silva atualmente trabalha como professor (Foto: Arquivo Pessoal)
"Era normal manter relações sexuais entre nós e também com os padres. Ao mesmo tempo, passávamos por sessões de terapia para a "cura gay". Essa era a vida dupla que eu tinha, me fez abandonar o celibato e tirou minha vontade ser padre".
O desabafo é do ex-seminarista Brendo Silva, que aos 12 anos entrou para a vida religiosa e permaneceu por mais de 10 anos na instituição educacional, mas deixou a Igreja Católica após enfrentar conflitos devido à sua sexualidade e à vida dupla que levava.
Brendo não chegou ao sacerdócio e lançou este ano o livro "A Vida Secreta dos Padres Gays - Sexualidade e Poder no Coração da Igreja" (Matrix Editora), revelando suas experiências. "Eu percebi que, se eu não me adequasse àquela vida, eu sofreria muito", diz Brendo. O UOL procurou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para buscar uma posição quanto ao livro e aos relatos de Brendo. As ligações e emails enviados entre o fim da semana passada e o início desta não tiveram resposta.
Já a Arquidiocese de São Paulo disse, em nota, que tomou conhecimento do livro e esclareceu que "os casos nele mencionados não dizem respeito ao seu âmbito de jurisdição, que corresponde apenas a uma parte do município de São Paulo". E acrescentou que lamenta os atos sofridos e descritos pelo ex-seminarista e que nenhuma denúncia formal foi feita. "Se forem verdadeiros, tais fatos são lamentáveis e repudiados pela Igreja, pois contradizem seus ensinamentos morais e a dignidade do sacerdócio."
Natural de Belém, Brendo conta que desde muito pequeno queria ser padre. Aos 8 anos, o paraense já frequentava a missa sozinho e, aos 10, era coroinha e passou a ter amizade com padres.
Dois anos mais tarde, ele teve seu primeiro contato com o seminário, ao passar férias no local. Os seminários são instituições de ensino dedicadas à formação de futuros líderes religiosos católicos, como padres
Aos 14 anos, Brendo se tornou seminarista e passou a morar em uma das instituições. Já se reconhecendo homossexual, foi nessa época que ele passou a enfrentar os primeiros conflitos com a Igreja.
Dentro do catolicismo, a homossexualidade segue sendo um dos temas mais delicados e silenciados. Segundo os relatos ouvidos pelo UOL, padres gays existem, estão presentes em paróquias e até em cargos de liderança, mas quase sempre vivem sua sexualidade às escondidas, até porque a estrutura religiosa exige o celibato.
Abdicar do sexo é visto como forma de pureza espiritual e, segundo Brendo, transforma o ambiente em um cenário de repressão afetiva e sexual.
"Os seminaristas, em sua maioria, eram gays, e era normal mantermos relações sexuais entre nós. Muitos padres nos assediavam, de maneira clara e até exagerada. Por outro lado, fazíamos sessões de terapia para buscar a "cura gay". Quando relatávamos o que acontecia, outros padres e as freiras não acreditavam na gente", recorda o ex-seminaristas.
Ao longo de uma década, Brendo passou por quatro seminários, entre Brasil e Europa. O cenário era semelhante em todos, diz ele, que recorda de grupos fechados nas redes sociais onde os encontros eram marcados e os religiosos conversavam sobre sexo.
"Marcávamos churrascos em chácaras onde bebíamos e fazíamos sexo. Já participei de um em que estavam 20 padres, sendo três deles bastante conhecidos e midiáticos", afirma ele.
Foi a necessidade de deixar essa vida dupla e viver, de fato, sua sexualidade que fez com que Brendo pedisse para sair do seminário e deixar sua missão na igreja Católica, em 2013. Mesmo após essa saída, ele relata que continuou recebendo mensagens de padres e bispos para encontros amorosos.
"Já fui almoçar com bispo e depois fomos para o motel. Já teve situações de até mesmo me pedirem para levar um garoto de programa para um encontro", revela ele.
Atualmente morando em São Paulo, ele afirma que passou a receber ameaças após deixar a Igreja e escrever seu livro.
"Diversos perfis fakes me mandam mensagens ameaçando. Além disso, passei a ser perseguido por muitos religiosos, que dizem que traí a vocação de Deus. Mas eu apenas decidi viver a minha vida de verdade", afirma Brendo.
Uol
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