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Crônica: Um ano de uma vida inteira de despedidas
Texto em homenagem a um ano de falecimento de Francisco Gomes.
Da Redação do Diamante Online
20/04/2021 às 13:11 | Atualizado em 16/03/2025 às 17:12
Nesta data, um ano se completa desde a partida do senhor Francisco Gomes, popularmente conhecido como Chico de Bastinho, que saiu deste para um outro plano. Sua história de vida será sempre retratada com magnanimidade.
Nascido sem riquezas, sem grandes perspectivas, conseguiu criar 12 filhos, dentre eles, esse que vos escreve. Ainda novo, casado e com as responsabilidades de um homem de casa, trabalhava no campo. Com ajuda dos meninos, plantava, colhia, comia. Todos os anos, ele arava a terra. Morava em casa alugada no sítio Castelo, zona rural da cidade de Boa Ventura, Paraíba, e em período de moagem de engenho de cana-de-açúcar, trabalhava e sempre trazia, ao fim da tarde, mel e caldo da cana para casa.
Mãos calejadas e costas cansadas, mas nada disso o abalava. Quem o conhecia sabia de sua forma de levar a vida. Fazia piada com tudo, até com as mais profundas ‘desgraças’.
Em 2005 resolveu sair do sitio onde residia para viver em Boa Ventura na casa própria. De tanto gostar do ambiente rural, comprou uma terra a cerca de 4 quilômetros, a qual acabou se tornando outra parte importante de sua vida. Acordava às 3 horas da matina, pegava seu boné pendurado no armador, sua bicicleta e partia rumo ao seu novo lar secundário. Ainda escuro, ele levantava e, silencioso, sozinho, caminhava pela casa e saía pela porta.
Todas as noites, às 20h, sentava-se em frente à TV e assistia ao Jornal Nacional. Ele tinha acesso às informações que o programa jornalístico passava e sempre ficava a par da situação política do país. Ele acompanhou a prisão do ex-presidente Lula, homem que ele admirava. Também presenciou a acensão do presidente Jair Bolsonaro. A última eleição em que ele participou foi em 2018 e, não podendo ser diferente, votou em Fernando Haddad, que era apoiado pelo ex-presidente petista.
Homem de poucas palavras, sem muita sabedoria intelectual, mas com grandes virtudes. Pouca religiosidade, mas com bastante fé.
Fato curioso é que ele não tinha muito afeto aos animais de estimação, mas, ao avanço da idade, começou a ter apego aos bichos, tanto é que, às vezes, eles repousavam sobre seu colo cansado sentado em uma cadeira de balanço.
Sempre com dificuldades de expressar sentimentos, ele dificilmente demonstrava emoções afetivas, a não ser abraços, esses que eram dados sempre que ele chegava de alguma viagem ou nas época em que a gente fazia aniversário.
Com toda alegria, tanta vida havia nele. Parecia ser de ferro. Dificilmente o via enfermo. Talvez ele escondesse para não demonstrar fraqueza.
Ninguém imaginava que toda essa armadura viria cedo abaixo. Em meados de 2018, ele foi diagnosticado com um problema sério no coração e teve de ir pressas à capital João Pessoa para fazer exames. O que temíamos aconteceu: ele estava com um inchaço no coração e se não fizesse uma cirurgia, o pior poderia acontecer.
Então não teve outra saída: foi preciso fazer o procedimento de cateterismo cardíaco. Momentos de apreensão foram vividos, mas, após realizar a cirurgia — bem sucedida —, ele pôde retornar para o lar e para os seus, mas com algumas restrições impostas, dentre elas a de não poder mais trabalhar com afazeres pesados no campo, pois poderia acelerar o processo de óbito dele.
Nos primeiros meses, ainda com medo, ele seguiu ponto a ponto as ordens médicas, como repouso, boa alimentação etc, no entanto, passado um tempo, Chico voltou a fazer as atividades rurais as quais tinha sido proibido fazer.
A expressão e o semblante cansado já evidenciava que ele não tinha mais condições de exercer aquilo, mas mesmo assim, enquanto o coração não dissesse “parou!”, ele persistia em fazer o que prezava.
O terrível dia chegou. Madrugada de 20 de abril de 2020, a notícia: um infarto. Repousando na cama de seu sítio, Francisco Gomes teve seus últimos momentos ao lado de sua companheira de vida e não mais retornou. Ali chegara seu fim.
No leito de morte, poucos filhos puderam estar presentes. Os famosos imprevistos da vida impediram parte de suas crias de comparecer ao seu adeus final.
Lembrado, ele nunca morreu. Morte é esquecimento. Ele seguiu pelo outro lado do caminho, a trilha mais certa que um dia todos hão de percorrer.
Tadeu Gomes
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