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Brasil

Filho acusado de matar médico encontrado esquartejado é absolvido em júri popular; mãe cumpre sentença de 19 anos

Julgamento terminou na tarde desta quarta (25).

Da Redação do Diamante Online

26/10/2023 às 10:08 | Atualizado em 19/08/2025 às 18:28

Foto de arquivo mostra o médico Denirson Paes, o filho Danilo Paes e a esposa, Jussara Paes — Foto: Reprodução/Facebook

Um júri popular absolveu o Danilo Paes Rodrigues, que era acusado de participar do assassinato do próprio pai, o cardiologista Denirson Paes da Silva, encontrado esquartejado dentro de uma cacimba no condomínio de luxo em que morava em Aldeia, Camaragibe, no Grande Recife. O julgamento, que começou na terça (24), foi concluído na tarde desta quarta (25), com a absolvição do rapaz.

O crime aconteceu em 2018 e, um ano depois, a viúva do médico, Jussara Rodrigues da Silva Paes, foi condenada a 19 anos de prisão pela execução e ocultação do cadáver. O corpo da vítima foi encontrado com partes carbonizadas.

Danilo Paes foi ouvido na manhã desta quarta e em seguida aconteceram os debates entre a acusação e a defesa. Os jurados se reuniram no início da tarde e decidiram pela absolvição de Danilo, por quatro votos a três.

Na terça (24), primeiro dia de julgamento, foram ouvidas cinco testemunhas de acusação e cinco testemunhas de defesa foram ouvidas; sendo duas, na condição de informantes, por causa do parentesco com o réu.

Denirson e Jussara Paes tiveram dois filhos. Danilo é o filho mais velho. O mais novo, Daniel Paes Rodrigues, chegou a vencer na Justiça uma ação contra a mãe, pedindo R$ 600 mil em indenização por causa do assassinato.

Argumentações e sentença

Segundo informações do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), na argumentação defendida pela acusação, o Ministério Público pediu a absolvição do réu, por entender "que não há provas suficientes para a condenação".

Já o assistente de acusação, Carlos André Dantas, defendeu a participação de Danilo Paes no crime, de acordo com laudos periciais e depoimento das testemunhas.

Dantas apontou como motivação para a participação de Danilo no crime a personalidade do réu, que ele considerou “impulsiva e instável”, e “a manipulação psicológica da mãe, Jussara Rodrigues, para a conquista de bens materiais”.

A defesa defendeu a inocência de Danilo Paes, embasada nos laudos periciais e no depoimento das testemunhas, afirmando que Jussara Rodrigues teria condições de ser a única autora do crime. A defesa também usou o posicionamento do promotor Leandro Guedes, que citou a falta de provas para condenar o réu.

Após a fase de debates, a juíza se reuniu com o conselho de sentença, formado por sete jurados, para decidir se o réu era culpado ou inocente das acusações. Por fim, a magistrada voltou para o plenário para ler a sentença.

Reações ao veredito

Danilo Paes falou rapidamente com a imprensa após o anúncio do veredito — Foto: Reprodução/TV Globo

Após o veredito ser anunciado, Danilo Paes falou rapidamente com a imprensa - que não pode acompanhar o julgamento dentro do fórum. “Só deus ouve, só deus fala. A justiça dele foi feita”, disse Danilo Paes.

O advogado de defesa, Rafael Nunes, comemorou o resultado do julgamento. “Se fez justiça. Danilo Paes foi durante muito tempo colocado como o verdadeiro assassino, monstro que ajudou a mãe a esquartejar o próprio pai. Jussara confessou, com riqueza de detalhes, o que fez. Está cumprindo pena. Essa pena não poderia ter se estendido a Danilo e o Ministério Público teve essa sensibilidade”, afirmou o defensor.

O promotor de Justiça Leandro Guedes também falou com os jornalistas e explicou porque defendeu a absolvição do réu.

"Não existem nos autos provas suficientes para uma condenação. Lendo atentamente a todos os volumes do processo, que são vários. Inúmeros documentos, inúmeras quebras de sigilo dos telefones dos quatro residentes – tanto de Danilo, quanto de Daniel, Denirson e Jussara – a gente analisou tudo (...) e não encontramos provas suficientes para colocar Danilo no ato do homicídio do pai dele, nem no ato de ocultação de cadáver", disse o promotor.

Daniel Paes, irmão mais novo de Danilo, disse que vai atuar para recorrer da decisão do júri de primeira instância.

“Minha vida, a vida da minha família... quem matou meu pai? Minha mãe? Só minha mãe? Com aquele porte? Perícia científica, Benevides afirmou, está lá: impossível ela ter feito sozinha. No Brasil não existe justiça. A gente está vendo isso aí. Como eu disse, vou tentar recorrer. Se eu tiver condição financeira. Senão, ele vai ter a consciência dele pesada e vai fazer a vida dele. Eu tô fazendo a minha”, disse Daniel Paes.

O assistente da acusação, Carlos André Dantas, disse que vai recorrer da sentença que absolveu Danilo Paes. “Resta a apelação e nesta apelação debater agora juridicamente todas as questões de direito, para que o tribunal reveja o caso, havendo a possibilidade de mudanças”, disse Dantas.

Júri popular
O julgamento aconteceu na 1ª Vara Criminal de Camaragibe, no Fórum Desembargador Agenor Ferreira de Lima, no Centro da cidade e foi presidido pela juíza Marília Falcone Gomes Lócio.

A denúncia apresentada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) dizia que Danilo Paes, filho mais velho do casal, teria auxiliado a mãe a matar o pai e, por isso, foi acusado de homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel e cometido à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima).

Ele também respondia pela ocultação do cadáver de Denirson Paes. A viúva foi condenada pelos mesmos crimes em 2019.

Rafael Nunes, advogado de defesa de Danilo Paes Rodrigues, conversou com os jornalistas na noite de terça (24) e se mostrou confiante na absolvição do seu cliente.

"Se cogitou a questão da força física. A polícia não procurou saber quem quebrou a casinha. Teria que ser um homem; Danilo. Apareceu inclusive para ser ouvido, seu Iraquitan. A cacimba é pesada, quem abriu? Danilo. Não foi. Apareceu quem foi. A defesa mostrou. (...) Tudo isso a polícia deixou no vácuo e concluiu de forma apressada que Danilo teria participação. Danilo entrou aqui pela porta da frente e vai sair pela porta da frente", disse Nunes.

Relembre o caso

O corpo de Denirson Paes foi encontrado no dia 4 de julho de 2018, dentro de uma cacimba na casa onde a família morava em Aldeia, em Camaragibe, no Grande Recife. Ele era considerado desaparecido;

Denirson Paes foi encontrado esquartejado, com partes do corpo carbonizadas. Um dia depois de o corpo ser achado, foram presos Jussara Rodrigues da Silva Paes, a esposa, e Danilo Paes, filho mais velho;

A defesa de Jussara alegou que ela era vítima de violência doméstica e teria agido em legítima defesa. A polícia disse que a descoberta de uma traição conjugal, um dia antes do crime, motivou o homicídio;

Danilo Paes foi solto, mas a Justiça negou um pedido da defesa dele para que ele fosse absolvido no processo;

Jussara Paes, presa desde a época do crime, foi condenada em novembro de 2019;

O filho mais novo do casal, Daniel Paes, conseguiu na Justiça obrigar que a mãe pague indenização de mais de R$ 600 mil por danos morais e materiais.

g1

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