Paraíba
Padre denunciado por intolerância religiosa após fala sobre Preta Gil é ouvido pela polícia e nega acusações
Padre Danilo César foi ouvido na quinta-feira (21). Polícia Civil tem um inquérito aberto para investigar as falas dele durante uma missa.
Por Redação
26/08/2025 às 08:09

Padre Danilo César de Sousa Bezerra, de 31 anos, é investigado por intolerância religiosa (Foto: Reprodução/Diocese de Campina Grande)
O padre Danilo César, denunciado por intolerância religiosa após uma fala sobre a morte da cantora Preta Gil, foi ouvido pela polícia e disse que não quis desrespeitar nenhuma religião. A informação foi confirmada pela delegada Socorro Silva, responsável pelo inquérito.
A delegada informou ao g1 que o padre alegou estar proferindo a fé católica, a própria crença, para os fiéis também católicos e que além de não ter a intenção de desrespeitar outras religiões e nem atacá-las, não queria derespeitar a memória de Preta Gil.
Mesmo após o depoimento do padre, o inquérito ainda não foi concluído. Ela explicou que será necessário ouvir outras três pessoas que registraram boletim de ocorrência em Puxinanã pela mesma acusação de intolerância religiosa. A previsão é de que esses depoimentos aconteçam ainda esta semana.
Depois disso, conforme a delegada, será avaliada a possibilidade de pedir mais um período para encerrar o inquérito. No entanto, ela fará "de tudo" para encerrar as investigações dentro do prazo de 30 dias. A delegada pode, ou não, indiciar o padre.
O g1 entrou em contato com a Diocese de Campina Grande, que é responsável pela Paróquia de Areial, que até a última atualização desta matéria não retornou.
Anteriormente, a Diocese de Campina Grande havia dito que “o sacerdote, através da assessoria jurídica, irá prestar todos os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes”.
O padre é alvo também do cantor Gilberto Gil, Pai de Preta Gil, que o notificou extrajudicialmente, assim como a Diocese de Campina Grande. Gilberto Gil exige uma retratação pública e formal por meio do canal da paróquia, onde a missa foi transmitida.
Também é pedida a apuração e responsabilização eclesiástica do sacerdote, com adoção de medidas disciplinares no prazo de dez dias úteis.
Sobre esses pedidos, a Diocese de Campina Grande também não se posicionou.
“Cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil?"
Durante uma missa realizada na cidade de Areial, no interior da Paraíba, no dia 27 de julho, o padre Danilo César fazia uma homilia no chamado 17º Domingo do Tempo Comum, período litúrgico da Igreja Católica.
Nessa homilia, o padre falava sobre pedidos que os fiéis faziam para Deus e que, por ventura, não eram atendidos. Nesse contexto, o padre cita a morte da cantora Preta Gil, nos Estados Unidos, vítima de um câncer colorretal, associando a fé dela em religiões de matriz afro-indígenas a morte e sofrimento.
“Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”, disse durante a homilia.
Após citar o caso de Preta Gil, ele fala diretamente aos fiéis que estavam o acompanhando na Igreja de Areial para pararem de procurar essas “coisas ocultas” e que “o diabo os levasse”, se referindo aos católicos que fazem pedidos para entidades de outras religiões.
“E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinanã, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não pra você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha”, disse.
A fala foi considerada como preconceituosa pela Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria, da região de Areial.
Após o vídeo gerar repercussão, o presidente da Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria, Rafael Generiano, prestou um boletim de ocorrência, o primeiro, por intolerância religiosa contra o padre. Conforme nota emitida pela associação, o presidente disse que condena as declarações.
De acordo com o delegado Danilo Orengo, responsável da seccional de Areial, e também conforme a responsável pelo inquérito policial, a delegada Socorro Silva, outros dois boletins de ocorrência foram registrados pelo mesmo fato.
G1
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