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Policial

Polícia abre inquérito e ouve testemunhas para investigar denúncia de intolerância religiosa contra padre, na Paraíba

Declaração em missa viralizou nas redes sociais por conta das falas do Padre Danilo César, que é o pároco de Areial, no Agreste da Paraíba.

Por Redação

30/07/2025 às 18:18 | Atualizado em 31/07/2025 às 12:12

Padre de cidade do interior da Paraíba é acusado de intolerância religiosa durante missa - Redes Sociais

Padre de cidade do interior da Paraíba é acusado de intolerância religiosa durante missa (Foto: Redes Sociais)

A Polícia Civil da Paraíba abriu nesta quarta-feira (30) um inquérito para investigar uma denúncia de racismo religioso feita contra o padre Danilo César, da cidade de Areial, Agreste paraibano. Segundo a delegada Socorro Silva, alguns testemunhas já foram ouvidas pela polícia e novas pessoas devem ser chamadas para prestar depoimento, incluindo o religioso, ao longo da investigação.

O inquérito foi instaurado após uma associação de religiões de matriz afro-indígena denunciar à polícia o padre por falas ditas por ele durante uma missa celebrada no domingo (27), e transmitida ao vivo.

No vídeo de grande repercussão nas redes sociais, o padre cita o caso da morte da cantora Preta Gil, que faleceu nos Estados Unidos em 20 de julho, vítima de um câncer colorretal, como forma de desdenhar de religiões de matriz africana.

“Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”, disse durante a homilia.

A Diocese de Campina Grande, que é responsável pela Paróquia de Areial, informou que “o sacerdote, através da assessoria jurídica, irá prestar todos os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes”.

O caso: Vídeo: padre é denunciado por intolerância religiosa em missa na Paraíba: "por que orixás não ressuscitaram Preta Gil?"

Na nota, a diocese reiterou também que está comprometida com “os direitos constitucionais da liberdade de crença e de culto, da igualdade e não discriminação religiosa, do direito à honra e à imagem dos mortos e do princípio da dignidade da pessoa humana”.

O g1 tentou contato com o padre, pelas redes sociais, mas também não obteve retorno.

A transmissão da missa aconteceu ao vivo no canal do YouTube da Paróquia de Areial, e apagada em seguida. Membros da associação que entraram com boletim de ocorrência conseguiram fazer uma cópia do vídeo e o g1 teve acesso ao material. Assista acima.

Após citar o caso de Preta Gil, ele fala diretamente aos fiéis que estavam o acompanhando na Igreja de Areial para pararem de procurar essas “coisas ocultas” e que “o diabo os levasse”, se referindo aos católicos que fazem pedidos para entidades de outras religiões.

“E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinanã, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não pra você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha”, disse.

O padre relatou também no vídeo uma história envolvendo uma mulher e sua filha que, conforme ele, teriam o procurado após essa mãe “consagrar” a filha para “essas entidades desconhecidas que têm vários nomes”. Ele associa práticas de religiões de matrizes africanas com doença e morte.

“Eu já fui fazer as exéquias na minha cidade natal e uma mãe desde cedo tinha consagrado a filha a essas entidades desconhecidas que têm vários nomes, ela morreu cedo e a morte dela foi uma morte tão sofrida. E eu lembro quando ela dizia que ‘tinha sido a besta fera que tinha vindo buscar a filha dela conforme tinha prometido’, olha a conta, um filho”, disse.

As exéquias que o padre cita na fala dele se trata de uma cerimônia fúnebre realizada pela Igreja Católica para fiéis após a morte.

O vídeo no qual o padre faz as declarações foi postado inicialmente no canal do YouTube da Paróquia, em uma transmissão ao vivo, no entanto o conteúdo foi tirado do ar.

Entidades condenam fala do padre

A Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza emitiu uma nota de repúdio sobre as falas do padre, condenando a postura. Conforme a associação, ele distorce a religião.

"Deus é amor e respeito ao próximo, onde infelizmente esse senhor que se diz sacerdote prega o ódio e o preconceito e ainda amedronta em pleno culto em sua igreja", diz parte da nota.

Em contato com o g1, o presidente dessa associação, Rafael Generino, disse que registrou o Boletim de Ocorrência na Polícia Civil pelo crime de intolerância religiosa e também informou que vai realizar a denúncia no Ministério Público da Paraíba (MPPB) sobre as falas do padre.

O presidente do Fórum de Diversidade da Paraíba, Saulo Gimenez, disse ao g1 que o órgão também condena as falas do padre, pelo teor, e também pelo local que foi proferida as palavras, o altar da igreja.

"É uma lástima para todos nós que, em pleno século XXI, depois de uma pandemia que deixou mães sem filhos, amigos perdidos, no meio de uma crise mundial, várias guerras, pessoas perdendo suas vidas, um sacerdote usar o seu lugar sagrado, usar o seu sacerdocio para destilar um veneno tão sódido como o ódio, como as intolerâncias. Usar um espaço que é para falar de amor, de compreensão, de solidariedade, mas não, está ali sendo cruel", ressaltou.

O órgão informou que vai continuar acompanhando o caso e vai prestar suporte à associação, além de "encaminhar às autoridades compententes para retratação do padre".

G1

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