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Vale do Piancó

Paulo Soares alertava que Saúde não era uma prioridade dos governos

Paulo era dono de uma verve insuperável e tinha livre trânsito entre intelectuais e jornalistas.

Da Redação do Diamante Online

12/02/2019 às 10:04 | Atualizado em 17/03/2024 às 11:21

O médico pediatra Paulo Soares Loureiro, que será sepultado hoje no cemitério Parque das Acácias, em João Pessoa, preocupava-se com a falta de atenção dos governos à Saúde Pública no país, advertindo que Saúde não era prioridade dos gestores e que eles agiam de forma demagógica em relação à questão. Paulo faleceu aos 81 anos, ontem à tarde, no hospital da Unimed, vítima de complicações respiratórias. No dizer do jornalista Severino Ramos, também falecido, Paulo era médico por vocação e boêmio por devoção. Com raízes em Itaporanga, no Vale do Piancó, firmou-se em João Pessoa, tendo se candidatado duas vezes a deputado estadual, sem lograr êxito. Na década de 90, assumiu a titularidade do mandato na Assembleia por pouco tempo, dando ênfase a denúncias sobre problemas como a desnutrição infantil. Seu irmão, José Soares Madruga, igualmente falecido, foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e chegou a assumir interinamente o governo do Estado.

Paulo era dono de uma verve insuperável e tinha livre trânsito entre intelectuais e jornalistas. Lançou, em evento bastante concorrido, o livro “Nos Tempos do Pedro Américo”, focalizando aspectos da vida boêmia em João Pessoa. Entrou na política para abrir portas a fim de conseguir os meios para levar à frente projetos de amparo à família, que ele considerava a base de tudo. No entanto, embora não endossasse uma frase do jogador Pelé de que o povo não sabia votar, Paulo dizia que o eleitor era dirigido pelo imediatismo. “O povo sabe escolher, mas por necessidade não escolhe bem. A prova está aí, nas Assembleias, nas Câmaras, no Senado. São aquelas representações que nós não esperávamos.São representações que vêm se repetindo em votações em que ficou provado que elas não estão representando bem o eleitorado. Eu não acredito que uma reforma eleitoral contribua para melhorar a escolha popular”, declarou, numa entrevista a Severino Ramos para o jornal “O Norte”.

Casado com a doutora Idalva, que se encontrava em Brasília, ontem, quando foi informada da morte, Paulo Soares era graduado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba e pós-graduado pelo Instituto Martagão Gesteira, registrando passagens por Faculdades e Universidades no Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto, tendo feito residência em neonatologia no Departamento de Medicina da USP. Foi secretário de Saúde da prefeitura municipal de João Pessoa e atuou em cidades do interior, inclusive, como médico dos Postos de Saúde da Família. Quando cursou a UFPB, a disciplina de Pediatria não tinha leitos nem a parte prática, apenas a parte ambulatorial, e um dos grandes inspiradores de Paulo Soares foi o médico João Medeiros. Além de aluno, Paulo tornou-se professor da Universidade e identificava evolução na qualidade do ensino ministrado, reivindicando, porém, condições materiais para que as pessoas pudessem colocarem prática seus conhecimentos.

Sobre o exercício da profissão, advertia para as dificuldades, principalmente pela natureza do sistema capitalista no Brasil. “Querer o governante dar ao povo uma medicina gratuita sem oferecer as condições é criar dificuldade para a prática da boa medicina. O governo, por exemplo, prega a municipalização da Saúde mas não proporciona os meios para que essa atividade seja gerida. Medicina boa é cara. Ninguém pode oferecer uma assistência médica perfeita com arranjos”, raciocinava. Ele enaltecia, por exemplo, o esforço do ministro da Saúde Adib Jatene, renomado cardiologista, para conseguir mais recursos para a Saúde, inclusive, através do restabelecimento da CPMF. “Mas todo esse esforço acaba sendo inútil porque não está se vendo, paralelamente, nenhuma tentativa para a correção das distorções do sistema médico-hospitalar”.Reclamava, por fim, da falta de punição de gestores que não investiam em Saúde e de dirigentes de hospitais flagrados em irregularidades. “Há saída para a Medicina, desde que o investimento seja nas pessoas, não na demagogia”, concluía.

Os Guedes

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