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Política

Michele se opõe a aliança do PL com Ciro Gomes e irrita filhos de Bolsonaro

O episódio reacendeu disputas internas que vinham sendo administradas desde a prisão de Jair Bolsonaro.

Por Redação

03/12/2025 às 08:15 | Atualizado em 03/12/2025 às 08:17

Michelle discursa em ato pró-anistia do 8 de Janeiro, junto a Bolsonaro (a partir da esquerda), Carlos, Flávio e Jair Renan - Miguel Schincariol/AFP/06-04-2025

Michelle discursa em ato pró-anistia do 8 de Janeiro, junto a Bolsonaro (a partir da esquerda), Carlos, Flávio e Jair Renan (Foto: Miguel Schincariol/AFP/06-04-2025)

A reação dos filhos mais velhos de Jair Bolsonaro ao discurso de Michelle no Ceará expôs um racha na família. A ex-primeira-dama viajou ao estado no domingo para participar do lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) a governador e, no palco, criticou a aproximação do PL local com Ciro Gomes, articulação conduzida pelo deputado federal André Fernandes.

Segundo pessoas próximas à ex-primeira-dama, Michelle só esteve no evento porque recebeu um pedido direto de Bolsonaro, que queria a sua presença na largada da pré-campanha de Girão.

No entorno dela, o entendimento é que a fala refletiu uma divergência conhecida com Ciro, mas não tinha a intenção de desautorizar o próprio ex-presidente.

O discurso, no entanto, foi lido pelos filhos como uma intervenção indevida em uma articulação que, segundo eles, havia sido autorizada por Bolsonaro.

— É sobre essa aliança que vocês precipitaram a fazer. Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita, isso não dá. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como — disse Michelle no evento.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a reagir publicamente. Ao portal Metrópoles, ele afirmou que Michelle “atropelou” a orientação do pai e classificou a postura como “autoritária”:

— A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora.

Na sequência, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) endossou o irmão, em publicação no X, e reforçou que o acordo com Ciro havia sido conduzido com aval do ex-presidente.

“Meu irmão Flávio Bolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o André o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo; foi uma posição definida pelo meu pai”, escreveu o deputado.

O vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) também se alinhou aos irmãos nas redes sociais e criticou a madrasta:

“Temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças”

O episódio reacendeu disputas internas que vinham sendo administradas desde a prisão de Jair Bolsonaro. Com o ex-presidente afastado do comando cotidiano, auxiliares apontam aumento de ruídos entre Michelle e os filhos, especialmente Flávio, com quem tem tido episódios de mal-estar. O filho mais velho de Bolsonaro assumiu o posto de porta-voz da família e tem ideias conflitantes com a ex-primeira-dama para as eleições ao Senado de 2026.

Centrão vê 'erro gravíssimo'

Entre aliados do Centrão, a avaliação é que Michelle cometeu um “erro gravíssimo” ao criticar publicamente uma articulação considerada consolidada no estado. Políticos ouvidos sob reserva afirmam que Bolsonaro havia avalizado o movimento e que as pesquisas internas justificavam o aceno: Ciro Gomes lidera a disputa, enquanto Eduardo Girão não tem demonstrado viabilidade, Nas eleições municipais de Fortaleza, no ano passado, ele obteve pouco mais de 1% dos votos.

A avaliação desse grupo é que a confusão no Ceará expõe um problema mais amplo: com Bolsonaro fora de cena, as divergências internas deixaram de ser contidas e não são pontuais, como apontam parte dos intermediários da família.

O Globo